13 de Maio: O que os negros de Teófilo Otoni têm a comemorar?

 

Neste 13 de maio, data que marca oficialmente a abolição da escravatura no Brasil em 1888, é necessário olhar para além das assinaturas da história. A pergunta que se impõe, especialmente em cidades como Teófilo Otoni, é: o que, de fato, mudou para a população negra? E mais importante: o que há para ser comemorado?
Em Teófilo Otoni, segundo dados do Censo de 2010 do IBGE, mais de 70% da população se declara preta ou parda. A cidade abriga 12 comunidades quilombolas registradas, herdeiras diretas de uma resistência secular, mas que ainda enfrentam sérios obstáculos à plena cidadania. Em muitos aspectos, os avanços conquistados estão aquém do necessário — e do justo. Além da política de cotas raciais adotada por instituições como a UFVJM e o IFNMG, pouco se vê de efetivo em termos de políticas públicas voltadas especificamente à população afrodescendente. O acesso à educação superior e os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, são importantes, mas insuficientes diante da desigualdade estrutural que marca a cidade e o país. As comunidades quilombolas de Teófilo Otoni (12 no total, nas zonas urbana e rural) ainda vivem em condições precárias, muitas vezes sem saneamento básico, assistência técnica agrícola ou infraestrutura adequada. O atraso secular na integração socioeconômica desses territórios é gritante. Muitas famílias sobrevivem da agricultura de subsistência no campo, do trabalho informal e de ocupações historicamente desvalorizadas na cidade. A exclusão também se expressa na violência. Negros são maioria entre as vítimas de homicídios e entre os presos em operações policiais (baste vermos nas manchetes dos jornais). Para muitos, infelizmente, o tráfico se apresenta como a única possibilidade real de inserção econômica — uma rota desesperada diante da ausência de oportunidades dignas. Esse cenário contrasta com a profunda contribuição histórica da população afrodescendente para a construção da cidade. Desde os tempos da estrada de ferro Bahia-Minas (final do século XIX), a mão de obra negra foi essencial — ainda que relegada aos subempregos e trabalhos pesados, realidade que pouco se alterou com o passar das décadas. E onde estão os negros nos espaços de poder da cidade? Nas secretarias municipais, nas chefias de órgãos públicos, nas decisões políticas? A representatividade ainda é mínima, e os espaços de decisão continuam sendo, em sua maioria, ocupados por brancos — que representam uma minoria populacional em Teófilo Otoni. Diante disso, o 13 de maio não pode ser apenas um marco histórico congelado no tempo. Ele precisa ser um grito de alerta sobre a dívida social ainda não paga com a população negra. O racismo estrutural segue como um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento justo e igualitário — e ele se manifesta nas estatísticas, nas ruas, nos presídios, nas escolas, no mercado de trabalho.
Comemorar o quê? Talvez a força de um povo que resiste. Que mesmo diante da invisibilidade institucional, segue cultivando sua cultura, sua fé, sua história e seu senso de pertencimento. Mas é preciso muito mais do que resistência. É preciso ação. E para isso, o poder público, as instituições e a sociedade precisam olhar de frente para a realidade da população negra em Teófilo Otoni. Mais do que flores ou discursos simbólicos, os negros da cidade precisam de acesso pleno a políticas públicas, oportunidades reais, reconhecimento, dignidade e reparação. Neste 13 de maio, portanto, a pergunta não é apenas o que se comemora, mas: o que ainda precisa ser feito para que se possa comemorar, de fato, a liberdade?

Por Vinícius Rêgo Pessoa
Jornalista – JP 11432/MG
Pós-graduado (Lato Sensu) Gestão de Políticas Sociais (PUC-MG)

Compartilhe :