Nesta campanha eleitoral para presidente, um dos temas que tem gerado muita discussão é a liberação de armas. E liberar armas para que? Para quem? Para muitos que não tem atestado de sanidade mental! E a campanha, como se fosse proibido comprar armas no Brasil. E quem é favorável a uma pessoa que não consegue um atestado de sanidade mental possa comprar uma arma e andar armado ao seu lado e de seus filhos?
A quantidade de registro de armas, no ano passado, por civis, foi de 33.031, dez vezes maior do que em 2004, quando passou a vigorar o Estatuto do Desarmamento. As mortes por arma de fogo também cresceram, 87%, de 1997 a 2016. Nossa sociedade, em plebiscito, não quer o desarmamento total. Que se dê a posse e o porte mediante muito treino e prova difícil, inclusive para policiais.
Já mostrei, no artigo “Arma estimula violência”, que Berkowitz e LePage , em 1967, observaram o que denominaram “efeito de armas”, ou seja, apenas ver uma arma pode tornar as pessoas mais agressivas e esse efeito foi verificado tanto dentro como fora do laboratório. Mostrei também que esse efeito afeta crianças, a ponto de ser aconselhável não ter arma em casa.
Em novembro de 2017, foi publicado na revista “Journal of Experimental Social Psychology”, Volume 73, o estudo “O efeito das armas no volante: os motoristas dirigem mais agressivamente quando há uma arma no veículo”, dos pesquisadores Brad Bushman, Thomas Kerwin, Tyler Whitlock e Janet Weisenberger, da Universidade do Estado de Ohio, EUA.
Dirigir carro é a atividade mais perigosa da maioria das pessoas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1,25 milhões de pessoas morrem a cada ano como resultado de acidentes de trânsito, principalmente jovens de 15 a 29 anos. A direção agressiva é a principal causa de acidentes de trânsito, de lesões e por mais da metade de todas as mortes no trânsito (American Automobile Association).
A direção agressiva inclui excesso de velocidade, colar na traseira do veículo à frente, bloquear outros motoristas, dirigir pelo acostamento, não respeitar sinal vermelho ou placas de pare, buzinar, usar faróis excessivamente, fazer gestos obscenos e xingar ou gritar raivosamente para outros motoristas. Há ainda o motorista raivoso, aquele que usa o veículo para agredir pedestres e outros veículos.
Para medir a agressividade ou raiva do motorista diante de armas, foi utilizado um simuladores de autoescola, já que seria antiético realizar estudos experimentais de agressividade usando veículos reais na estrada.
Os participantes foram aleatoriamente designados para dirigir em um cenário frustrante com uma arma ou uma raquete de tênis no banco do passageiro. No total, foram 60 estudantes universitários, sendo 23 homens e 7 mulheres com a arma e 22 homens e 8 mulheres com a raquete.
Usando a regressão de Poisson para medir os resultados, verificaram que o número de ações agressivas aumentou em 1,8 vezes, praticamente o dobro, quando uma arma estava no carro do que quando uma raquete de tênis estava no carro. Armas em carros? Nem pensar! Fica a dica para as autoridades e os cidadãos de bem!
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano