O despertador toca, começa mais um dia e, você, muito provavelmente, deve ter como hábito a busca instintiva de se conectar com o mundo e descobrir, na primeira hora ativa de seu dia, o que os amigos estão fazendo ou fizeram, o que anda rolando em sua cidade, estado, país, mundo, enfim, você aperta o F5 existencial com a ambição e necessidade de estar ciente de tudo, ou quase tudo. Simultaneamente, começa também a receber comunicações comerciais das marcas que você segue ou que seguem você.
O grande ponto a ser observado nisso é que se as informações estão aí por toda parte, se buscamos tanto conteúdo, se recebemos tantas outras mensagens até sem desejar, como fazer que a sua mensagem, publicitária ou não, se sobressaia e tenha alguma importância, a ponto de ser efetivada e concluída com sucesso. E isso vai além das métricas e evidências de audiência, visualizações, cliques e impressões. O que questiono é: o quanto a sua comunicação realmente é relevante?
Comunicar bem é uma arte, porque mais que compartilhar uma ideia e tornar comum o que se deseja emitir, exige o entendimento, compreensão e retorno da mesma forma daquilo que se pretendia. E não é fácil esse feedback, pois isso exige, em primeiro momento, saber escolher códigos que realmente são condizentes, entendíveis e estimulem a compreensão do outro lado. E como é difícil pensar como o outro, se colocar no lugar dele e entender o seu mundo.
Mais que isso, que belo desafio é criar uma mensagem que seduza e possa, efetivamente, criar laços entre as partes, ou seja, que se faça cativar. Voltando no tempo, Antoine de Saint-Exupéry, em sua clássica obra “O Pequeno Príncipe”, falava sobre a importância de cativar. Separo um pequeno trecho.
“Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita. Vem brincar comigo. Estou tão triste…
Sou uma raposa, disse a raposa. Eu não posso brincar contigo. Não me cativaram ainda.
Ah! Desculpa, disse o principezinho. Mas o que quer dizer “cativar”?
É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços…”
CRIAR LAÇOS?
Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo. ”
É exatamente isso, entende? O que precisamos compreender para comunicar bem é que existem cem mil outras opções de mensagens disponíveis, tantas outras empresas parecidas competindo pela atenção de quem desejamos e enquanto não formos relevantes a ponto de cativar, esse receptor do qual damos o nome de Target não terá necessidade daquilo que temos e de quem somos. Mas, se fizermos bem feito, se escolhermos bem o tempo e o canal certo, as palavras corretas, na argumentação e design adequados, aí sim conseguimos o grande objetivo de cativar.
Fechando, portanto, fundamental é criar laços, conhecer o outro, ser importante para ele com aquilo que comunica, compartilha e oferece. E o mais fascinante desse universo da comunicação é que não há receita de bolo e nem fórmula mágica. Pois o receptor muda. A necessidade muda. As condições e cenários se transformam e, do lado de cá, você como emissor tem que estar atento para essa adaptação. Tudo muito dinâmico. Diário. Em tempo real. E o maior desafio não é acertar e seduzir uma vez, pois isso até muitos conseguem. O desafio é justamente ser constante e manter unidos os laços, pois como na própria história de Saint-Exupéry, a raposa afirmava: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
Emerson Gomes é publicitário