Fica claro pelos noticiários que a violência no Brasil aumentou muito de um ano para cá. Os fatores desencadeantes que de certa forma colaboram com esse quadro são o desemprego, a corrupção generalizada e endêmica dos governantes e, acima de tudo, um descrédito da democracia, além, é claro, da certeza da impunidade. A exegese dessa violência tem sido palco no Brasil de explicações sociológicas tanto pela esquerda quanto pela direita, que se aproveita desse verdadeiro caos.
É verdade que, no bojo da violência ostensiva, existe a violência ideológica, preconceituosa e racista que dá a sustentação para os discursos dos presidenciáveis que evidentemente prolatam uma linguagem de fácil acesso aos que mais sofrem com esta situação calamitosa a que chegamos.
Crianças são mortas em tiroteios no Rio de Janeiro, pessoas incautas que não conhecem determinados trajetos dentro das comunidades são alvejadas sem o menor pudor, alunos agridem professores em salas de aula, automóveis são parados e seus motoristas, assaltados, quando não mortos em arrastões. O feminicídio aumentou barbaramente. Tudo isso ao som agora das marchinhas de Carnaval e das cidades coloridas por essa festa tradicional, tão tradicional quanto tem se tornado o costumeiro conformismo com a deliberada agressão ao cidadão de bem.
Abrigando por volta de 100 mil habitantes, vista para o mar da zona sul do Rio de Janeiro e um sem fim de becos e vielas espalhados entre os bairros da Gávea e de São Conrado, a favela da Rocinha passou nos últimos quatro meses por alguns dos momentos mais violentos de toda sua história. Fica patente que ninguém tem uma fórmula mágica para acabar com a criminalidade, que, num país pobre, em crise moral, com um nível de desemprego assustador, tende a piorar.
O mais intrigante é a difusão da violência pelo país, que não mais se restringe ao Rio de Janeiro, contudo, entendo que neste ano eleitoral é importante nos abstermos dos discursos delirantes de presidenciáveis que vendem a facilidade do “olho por olho”, muito embora eu tenha a convicção de que o endurecimento do Estado deve ser aferrado para o bem da sociedade e para o equilíbrio contencioso do crime a céu aberto, típico do que podemos chamar de “rotina de guerra”.
Na próxima eleição, vamos ter os “Rambos”, os candidatos do antigo argumento de que “tudo se resolve com a educação” e os liberais com a tese de que “aumentando os investimentos” o tiroteio diminui. Por ora, é bom contar com D´us, saber por onde transitar ou a última opção, para os que podem mudar de país, uma atitude que alguns podem achar covarde ou tão corajosa como ficar no meio de um tiroteio na linha vermelha… E ter a sorte de sair vivo.
Fernando Rizzolo é Advogado, Jornalista, Mestre em Direitos Fundamentais, Professor de Direito