Férias
Havia uma estrela azul no céu no fundo do quintal escuro. Havia uma solidão inerte em frente ao mar. Haviam moças extremamente novas e bonitas, biquínis, peitos, cangas, calcinhas e sensualidade escancarada. Havia poesia e incondicionalmente a estrutura quase freudiana do modelo triádico do aparelho psíquico dominando mentes displicentes. Aparentemente havia também uma eterna sombra subliminar e um sorriso lento entoando pitadas de orgasmaravilhações múltiplas. Havia a paixão. E, por conseguinte, a reverberação dos anais dos menestréis baianos encabeçando uma lista de música e literatura. Havia sim, música. Daquelas alegres. Quase dominando as pausas e as dissonâncias sustenidas e, de qualquer maneira, subestimáveis. Havia uma vontade energizada de ser feliz para sempre. Doce ilusão. Mas acima da ilusão há a arte. Que faz parte, por exemplo, de um movimento quase obscuro chamado fé no futuro, que resume e assume uma postura autoritária de quase morrer de felicidade. Há quem ache que é mera inspiração ou qualquer outra forma de tentar se enganar num episódio diacrônico. Havia uma leve sensação de paz. O que, insignificantemente, me apraz ainda mais e me desconsola e me torna diferente dos demais. Dias atrás viajei por um mar sem fim e encontrei em mim meus inimigos e meus piores defeitos. Sem perceber, eles foram eleitos por unânime aconchego no vasto rol de imperfeições a parte boa que carrego. Havia um enorme retrato e uma lua gigantesca que não parecia navegar. Havia a vontade eterna de ficar e falar mais uma vez: eu te amo. Mesmo que isso não mudasse nem um pouco seus planos. A estratégia não estava eternamente traçada. Melhor que nem existisse nada. Havia a certeza de dias longos e vistas quase paradisíacas. Havia a sensação de noites claras e frescas e a psicodelia das apresentações artísticas. Havia um olhar de lado num rosto que já foi amado, mas que, infelizmente, não se despertou nem sequer culpa ou qualquer sentimento que se achava que estava ali guardado. Mais do que qualquer novidade acerca da certeza da melhoria de um organismo inteligente e alegre, havia a vontade de crescer. Havia uma mudança e uma esperança em dias estupefatamente melhores. Mais do que qualquer coisa, havia a certeza incontestável que alegria era dominante. Musicais eram cada vez mais constantes. Inteligência era além da inspiração. Ausências só criaram força e resiliência. Havia dom e, ainda que em férias, trabalho duro.