Procurada pela reportagem, a militante se mostrou firme e disse que de fato não é um ‘até breve’ (ao contrário do que escreveu numa parte do documento de despedida). Em comunicado aos convencionais do partido ela alega que “o PT se contaminou com o poder”, o que a motivou a deixar a legenda, mas não o ativismo na política
TEÓFILO OTONI – Joana Louback, liderança histórica do Partido dos Trabalhadores, com mais de 30 anos de filiação, destes, 27 dedicados como membro do Diretório Municipal, pediu nesta semana sua desfiliação da legenda. Em carta aberta (publicada em sua conta particular na rede social Facebook) direcionada, sobretudo, aos afiliados do partido, a ex-presidente por dois mandatos afirmou que o Partido dos Trabalhadores ‘desviou’ do caminho certo e se ‘contaminou com o poder’: “Nestes 27 anos vi e vivi coisas maravilhosas, e também com atitudes e coisas nojentas, que em nada condiziam com o nosso belo ideal de partido”, escreveu no comunicado.
Na carta de desfiliação publicada neste domingo (24), Joana Louback voltou a criticar a sigla na qual militou nas últimas três décadas. No texto, ela afirma que “se de um lado fomos nos tornando grandes [o PT] e aos poucos superando os preconceitos e resistências da sociedade para com os nossos propósitos e ideais, fazendo brilhar a nossa estrela por todo o Brasil, inclusive aqui na nossa cidade [TEÓFILO OTONI], de outro fomos nos apequenando por ir tornando-nos iguais aos outros, fazendo qualquer coisa pelo poder, negociando o projeto por cargos e mandatos, usando os vícios e os esquemas corruptos do poder político brasileiro para garantir a governabilidade, trocando a democracia interna do partido pelo mando dos caciques donos de mandatos”.
Por fim, a ex-presidente do Partido dos Trabalhadores afirmou que vai continuar seguindo o caminho que ela descreve como sendo de luta para a justiça social.
“Foram mais de 30 anos no PT, dois mandatos como presidente do diretório, agradeço a todos. Tudo o que era preciso dizer já foi publicado na carta aberta ao partido e seus filiados. Agradeço (ao DIÁRIO), no entanto, não é o momento de pronunciar. Talvez em outra oportunidade”, falou Joana Louback.
Íntegra da carta de desfiliação de Joana Louback:
“Caros Companheiros e companheiras de Partido, Paz e Bem!
É com grande pesar, que venho até cada um de vocês comunicar-lhes que continuaremos amigos de luta, mas não de Partido. Eu acabo de DESFILIAR-ME DO PARTIDO DOS TRABALHADORES.
Dos meus trinta e poucos anos de filiação no PT, 27 destes foram dedicados como membra do diretório, sendo por 02 mandatos presidente do mesmo.
Nestes 27 anos vi e vivi coisas maravilhosas, mas vi e convivi com muitas atitudes e coisas nojentas, que em nada condiziam com o nosso belo ideal de partido.
Se de um lado, fomos nos tornando grandes e aos poucos superando os preconceitos e resistências da sociedade para com os nossos propósitos e ideais, fazendo brilhar a nossa estrela por todo o Brasil, inclusive aqui na nossa cidade e possibilitando ao povo conhecer e experimentar em sua vidas as mudanças e melhoria da qualidade de vida promovidas pelo nosso partido, de outro fomos nos apequenando por ir tornando-nos iguais aos outros, fazendo qualquer coisa pelo poder, negociando o projeto por cargos e mandatos, usando os vícios e os esquemas corruptos do poder político brasileiro para garantir a governabilidade, trocando a democracia interna do partido pelo mando dos caciques donos de mandatos.
São os vereadores, deputados, senadores, governadores, presidente da república e as pequenas executivas que há muito tempo mandam e desmandam no partido. Os filiados são meros instrumentos utilizados de acordo aos interesses destes mesmos líderes. Enfim, estamos vivendo uma profunda crise ética na sociedade que atingiu em cheio o Partido dos Trabalhadores também.
Leonardo Boff, em um de seus artigos desta semana, fala do abatimento e da decepção dele e de Frei Beto com os rumos que o partido vem tomando e disse que “o PT antes de fazer qualquer coisa nova, deve fazer a auto-crítica pública e correção humilde dos erros cometidos. Diz ainda que foi pela imoralidade, pela falta de amor ao povo e pela ausência de conexão orgânica com os movimentos sociais” que o PT pecou e começa a perder o rumo.
Como filiada e membra do diretório em todos estes anos, estou certa de que o PT não conseguirá fazer esta auto-crítica pública e correção humilde, bem como por não acreditar numa retomada do PT às suas origens e pelo desejo profundo de continuar sendo representante de um grupo político que entende “a ética como um conjunto ordenado de princípios, valores e das motivações últimas das práticas pessoais e sociais, bem como o caráter e o modo de ser de uma pessoa ou de uma comunidade”( Boff 2003), é que vou continuar contribuindo com a política fora do PT.
“Vivemos uma grande crise mundial de valores e isso dificulta, para a grade maioria das pessoas, a distinção entre o que é correto e o que não é. Esse obscurecimento da ética redunda numa insegurança e permanente tensão nas relações sociais e tendem a se organizarem ao redor de interesses particulares e não ao redor do direito e da justiça”( Boff 2003), e assim está se tornando cada dia mais o PT, que aos poucos vem abdicando de lutar pela “ Grande Política para se entregar à pequena política.
Eu não desistirei de acreditar na política e caso eu não consiga encontrar um partido que preencha os critérios éticos que eu acredito, que por sinal , hoje não existe, e o PT conseguir retornar às suas origens, eu não terei vergonha de fazer a minha auto crítica e pedir a minha refiliação no Partido dos Trabalhadores.
Hoje eu não estou vendo luzes e não quero ser conivente com os erros sistemáticos das direções e das lideranças do partido aqui e em todo o país.
“Se não houve frutos, valeu a beleza das flores;
Se não houve flores, valeu o frescor das sombras;
Se não houver sombras, valeu a intenção das sementes”! ( Henif)
Obrigada pelos sonhos e lutas travados juntos nestes anos!
Vamos continuar juntos nas encruzilhadas da vida, com certeza!
Teófilo Otoni, 24 de maio de 2015.
Joana Alves Louback”