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Associação dos Acampados e Posseiros da Fazenda Itamunhec contestam realização de audiência pública em nome do assentamento

Segundo a ASPOFITO, sua diretoria não foi consultada sobre a realização do encontro. Eles temem terem suas terras invadidas por integrantes do MST (que há anos teriam abandonado o acampamento, sobrando apenas 8 das atuais 90 famílias lá residentes. Os atuais posseiros temem ainda que processos já adiantados de regularização de posse junto aos órgãos competentes possam ser prejudicados por um suposto [e desnecessário] alarde provocado pela audiência e suas conseqüências, como um protesto prometido pelo Movimento Sem Terra na sede do INCRA, em BH

TEÓFILO OTONI – Na última semana (dia 12, última quarta-feira), a Câmara Municipal recebeu uma audiência pública para discutir o processo de regularização do assentamento ‘Mãe Esperança’. No entanto, o encontro requerido pela vereadora Tina (PT) desagradou a diretoria da Associação dos Acampados e Posseiros da Fazenda Itamunhec (ASPOFITO), que, por sua vez, manifestou repúdio à participação de representantes do MST na reunião.

Representantes e diretoria da Associação dos Acampados e Posseiros da Fazenda Itamunhec na sede do Jornal DIÁRIO, onde chegaram para expor o problema apontado por eles

De acordo com o presidente da associação, Valdir Alves da Cruz, a direção e o conselho não receberam ofício ou comunicado sugerindo a convocação da diretoria a participar do debate [em que eles são os principais interessados]. “Apenas um mero convite, impresso, na véspera da audiência pública em Teófilo Otoni”, afirmou Valdir.

“Acredito que eles [organizadores da sessão pública] teriam que pedir autorização da Associação para realizar a audiência. Eles não nos procuraram e a diretoria não foi comunicada da audiência previamente. Em nenhum momento recebemos um ofício, apenas um convite na véspera da audiência pública em Teófilo Otoni”, afirmou o presidente.

 

A assembleia realizada na fazenda, no domingo, contou com a presença do assessor especial do Estado na região, Jorge Arcanjo

Infiltrados

Apesar do mal estar gerado, segundo as contestações da presidência da ASPOFITO, pela suposta ausência de comunicado formal, para o secretário executivo da associação, Paulo Alecrim, o que mais desagradou foi a presença do MST, o qual, segundo ele, não teria vínculo para nortear a audiência, tampouco, representar os acampados.

A vereadora Tina foi a autora do pedido de realização da audiência pública

“Repudiamos a fala do representante do MST, que hoje em dia não fala a mesma língua dos acampados de Itamunhec, razões as quais eles mesmos, o MST, abandou a associação. Naquela ocasião, eles informaram que a associação deveria andar com as próprias pernas para procurar assentar-se, e foi o que fizemos, sem nenhum vínculo com o movimento. Logo, a associação documentou-se e foi até o ex ministro de

Presidente da associação, Valdir Alves da Cruz, falou do rompimento do assentamento com o MST, que segundo o próprio abandonou o acampamento há 13 anos,

Desenvolvimento Patrus Ananias, em Brasília, encontro registrado em oficio, para que ele pudesse intervir junto ao INCRA, órgão ao qual ele era representante, para que pudesse assentar as pessoas que ali se encontram. O ex-presidente Lula, em abril de 2007, criou oficialmente o assentamento “Mãe Esperança de Itamunhec”. Existe o assentamento, é legal, por meio de lei federal para assentar 45 famílias. Porém, desconheço o motivo do INCRA não assentar nenhum até hoje. Existem dezenas de famílias aguardando. Os desapropriados já receberam parte do que foi negociado, faltando apenas uma prestação a pagar aos desapropriados antigos, e até o presente momento o Incra não resolve. O órgão, na pessoa do seu superintendente regional Robson Fonzar, falou comigo pessoalmente que esse processo estava engavetado e agora colocou para andar. Estivemos no PRONAF para requerer o DAF para os assentados. Fomos no SIPRA em Belo Horizonte, para que reveja os cadastros. Esse pessoal já é cadastrado no INCRA. A audiência foi recebida com surpresa, porque estamos resolvendo de forma legal, como deve ser feito. A nossa associação foi criada para estabelecer o bem comum. Não se justifica o MST pegar essa terra e invadir, como eles fazem. Deixo aqui o repúdio, não para os organizadores, mas sim para o homem da linha de frente, que falou em nome do MST. No mais, gostaria de afirmar que não existe mal estar com os envolvidos, convidados, como a OAB, Prefeitura, associações, a vereadora Tina, autora do pedido da audiência e demais órgãos envolvidos e participantes. Só lamentamos a participação do MST que não representa em nada a diretoria ou qualquer membro da Associação”, finalizou.

Após a audiência pública, houve uma assembleia geral com os posseiros, neste domingo (16). Segundo Paulo Alecrim o grupo se mostrou indignado com a realização da sessão sem consulta prévia aos mesmos. Eles salientaram ainda que o assentamento vem sendo acompanhado a algum tempo pelo vereador Raulino do Sindicato (PT), que seria o melhor nome para realizar uma audiência em nome do “Mãe Esperança”. Em 2014, por exemplo, o vereador concedeu um título de reconhecimento público do acampamento, requerimento aprovado pela Câmara Municipal e entregue aos posseiros na sede do legislativo local. “Talvez Tina nem saiba dessa situação toda. Acredito que não saiba, agiu pelo pedido do pessoal do MST. Em nossa opinião, o ato foi mais político que de interesse de quem nele está”, pontuou Valdir.

 

Situação

Segundo informado pela diretoria à reportagem, há 13 anos um grupo de famílias, apoiados pelo MST, invadiram as terras da Fazenda Itamunhec. Posteriormente, ainda de acordo com a atual presidência da ASPOFITO, os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra desistiram da ocupação após a maioria dos então membros pedirem desfiliação. Clara, ex-presidente da associação disse que militou por vários anos o MST, juntamente com os primeiros posseiros, mas que deixou os quadros da organização já quando estava assentada, ainda em barraco de lonas, restando poucos remanescentes do grupo ainda no acampamento. “Hoje, somos 82 famílias nas terras da Fazenda Itamunhec, além de mais 8 famílias de integrantes do MST. Construímos nossas casas de alvenaria com nosso próprio esforço, nesse tempo de luta, com o dinheiro que vinha do que conseguimos produzir. O espaço do assentamento tem mais de 2 mil alqueires, porém, pouco mais de mil são agricultáveis, pois o restante é rocha, terra erodida e área de matas. Apesar desse montante de terras, vivemos em nossas casas plantando num espaço muito pequeno, no entorno de nossas casas, onde colocamos cerca. Tenho mais de um alqueire separado na fazenda, mas não posso cercá-lo e plantar porque não consigo o título de posse. Temos medo de que, com essa audiência, venham integrantes do MST para o assentamento, que já está há 13 anos dividido e ocupado, e pegar parte das nossas terras, ou mesmo nos tirar de lá. Outro problema é que na audiência o grupo do movimento ficou de ir em BH protestar em frente a sede do INCRA. Contestamos a necessidade deste protesto, porque já estamos em situação  avançada de reconhecimento. Isto pode nos afetar, atrasando processos que estão bem adiantados em nosso favor”, finalizou a posseira.

Toda a situação, segundo a diretoria, está sendo acompanhada pelo jurídico do assentamento, que vai entrar com as medidas cabíveis frente as decisões emanadas na audiência que possam ir de encontro aos trâmites feitos, garantido e já agendados pela ASPOFITO em nome da regularização fundiária dos acampados.

O espaço do DIÁRIO está aberto para outras opiniões e informações sobre o assunto, tanto por reivindicação de associações quanto a nomes citados na matéria.

 

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