campanha
Restaurante Irmã Zoé

Autores lançam importante livro “O CORAÇÃO DE DRAGÃO: histórias sobre o álcool na adolescência”

TEMA SÉRIO & FORMA LEVE

Coração de Dragão trata de um tema sério, mas com uma abordagem divertida e saborosa. Sabemos que mais da metade dos estudantes do 9o ano já experimentaram alguma bebida alcoólica e mais de um quarto têm o hábito de beber. É o caso de Beto, um dos heróis dessa história, que se mete numa grande enrascada. A trama se passa na pequena Teolândia, uma cidade no interior da Bahia, onde os verões são escaldantes e as crianças se divertem na roça da Brígida, com mergulhos no rio. O engenhoso e imaginativo João e sua inseparável amiga Ana têm a missão de resgatar o amigo. Um charmoso apelo vintage,  com a presença de games como o Street Fighter no fliperama bombando e Opalões e Chevettes, povoa essa crônica de costumes encantadora, em ecos de um Brasil que se transformava a olhos vistos na década de 1980. As bikes dos garotos  compartilham com os protagonistas sentimentos e emoções que fazem valer a pena ler o romance: cumplicidades e traições, dúvidas e gestos de amizade, dilemas e sofrimentos, violência  e medo. Uma história humana e muito bem contada por dois craques da literatura infanto-juvenil.

Heidi Strecker

(Escritora, crítica literária e doutoranda em Letras pela USP)

RESUMO

Neila Bruno e Antônio Roque Júnior formam uma dupla criativa e afiada para contar um pedacinho da vida de três garotos: Ana, João e Beto. São adolescentes comuns, disputando corridas com suas bikes, o Coração de Dragão e Pégaso, mas Beto de repente fica estranho, muito estranho e desaparece. Os dois amigos embarcam em uma aventura perigosa para descobrir o paradeiro de Beto.  Nesse momento entra em cena a turma de Marcos, Os Selvagens. Num galpão abandonado, Beto enfrenta duras provas para ser aceito no grupo e atrair o coração de Capitu. Ambientados na década de 1980, os quiproquós se sucedem e incluem até mesmo a transformação misteriosa do Coração de Dragão e a destruição total da Pégaso. Além da meninada do colégio, vários personagens inesquecíveis entram em cena: Dona Nair e seu Cosme, os pais de Beto, o atrapalhado professor Pachequinho, a emotiva diretora Beti, o Zé do flipe, o espanhol octogenário Miguel e o padre Paulo, que explica a origem da fogueira de São João.  Nessa galeria de tipos tem destaque o soldado Fábio Sampaio, parte importante do suspense que envolve o leitor. Dividido em capítulos curtos e alternando drama e comédia, O Coração de Dragão é um romance juvenil fortemente ancorado na realidade. Longe de ser um libelo contra o consumo de álcool, o livro é uma crônica leve e divertida, mas que impacta diretamente seus leitores.  


TRECHOS ESCOLHIDOS

Mas o que mais chamava a atenção eram as reluzentes asas moldadas em metal e soldadas no paralama dianteiro. Agora o cavalo alado parecia realmente poder voar.

“Ana sentou-se atrás dele, no assento do garupa. Ela gostava de abrir bem os braços e sentir o vento passando por suas mãos. Uma vez montados na Coração do Dragão, ambos se sentiam como He Man e She Ra,estavam totalmente preparados para entrar em qualquer aventura. Ao ouvir a campainha da bicicleta soando com urgência, toda a rua já entendia que os garotos partiam para o colégio. Um segundo depois, dois capacetes apressados passavam em frente das janelas da vizinhança.”

“Enquanto isso, Beto já aparentava não estar bem e quase não reagia mais aos estímulos dos outros. Falava coisas sem nexo, e isso provocava gargalhadas nos outros garotos. Também tinha grande dificuldade em permanecer sentado e cambaleava para a esquerda e para direita, fechando os olhos, o que fazia os presentes quase rolarem no chão de tanto rir. Ricardo ordenou, em tom de deboche: ‘É sua vez, Big B, tem que pagar a prenda!’ Bruno pressionava: ‘ Ah, como você é fraco!’

“Pararam as bicicletas no fundo das quadras de futebol do Barradão, como era conhecida a Praça Lomanto Júnior. Assim, de forma discreta, poderiam deixar a poeira baixar. Sempre faziam desse modo quando aprontavam alguma, mas nunca algo tomou essas proporções. Capitu estava furiosa: ‘Cara, você bateu num menino por nada!’

“Ana sentiu um nó na garganta, será que o amigo planejava fazer o que ela imaginava? – É, Ana, essa é a missão final da Coração do Dragão. Agora percebo que ela estava destinada a isso! – João deu uma última olhada para a bicicleta, observou o brilho escarlate que emanava dela naquele fim de tarde e começou a dura peregrinação em direção ao interior da loja.”

“Assim que Beto montou na Pégaso, sentiu como se a bike emanasse eletricidade e como se essa energia percorresse todo seu corpo. Olhou para os amigos e soube que palavras não precisavam ser ditas.  Coração do Dragão e Pégaso estavam novamente lado a lado.”  

ENTREVISTA COM OS AUTORES

Como surgiu a ideia de escrever O coração do Dragão? Foi uma vivência pessoal?

Antônio: Sempre procurei escrever sobre temas que pudessem oferecer ferramentas para lidar com problemas que afligem as pessoas. A primeira oportunidade surgiu ao fazer um livro sobre o coronavírus e agora ao abordar o problema do álcool.  O livro é repleto de vivências pessoais, experienciadas ou observadas.

Neila: Acredito muito em parcerias com pessoas que têm um trabalho sério e eficaz, como é o caso do Antônio. A ideia do Coração de Dragão surgiu em2018, quando nos conhecemos, mas pusemos a mão na massa para elaborar a história no final de 2019. O fato de ser professora me chamou a essas reflexões sobre aquestão das drogas e do álcool. Por que não colaborar com uma discussão como essa?

A ação de O Coração do Dragão se passa na década de 1980 e faz referência a brincadeiras, hábitos e costumes da época. Vocês fizeram pesquisas antes de escrever o romance? Quais as diferenças e semelhanças entre asalegrias e os problemas dos adolescentes daquela época com os adolescentes de hoje?

Antônio: O fato de ambos termos vivido essa época facilitou as coisas, mas ainda assim muita pesquisa foi necessária, não só quanto ao momento retratado, mas também em relação ao espaço em que se passa a história e ao comportamento das “tribos” juvenis. Apesar de diferenças claras, sobretudo fomentadas pela facilidade de acesso e velocidade com que as informações chegam e são transmitidas hoje, ainda assim alguns dramas são atemporais, estão ligados as questões existenciais humanas.

Neila: Acho que trazer um pouco do que vivenciamos na nossa adolescência através das personagens do livro é uma possibilidade de revelar ao leitor como se comportava a garotada da década de 1990. De lá pra cá muita coisa mudou, mas acredito que valores como amizade e empatia, bem demarcados no livro, são importantes em qualquer época.

Como vocês começaram a escrever para crianças e adolescentes? Que gêneros literários e autores você gostam de ler atualmente?

Antônio: Tudo começou por meio da parceria com as professoras Neila Bruno e Josivânia de Assis, para a produção de uma cartilha voltada para o público infantil sobre o coronavírus, intitulada Juntos contra o Coronavírus (2020, publicada pela EDITUS). Depois disso publiquei meu primeiro livro infantil, Xô, coronavírus, pela Editora Canal6. Adoro livros sobre desenvolvimento pessoal, livros históricos e uma boa ficção.

Neila: Diferente do Antônio, comecei escrever em 2010, em 2012 publiquei meu primeiro livro infantil Maricota e as formigas. Parei por alguns anos para me dedicar ao mestrado e doutorado. Em 2018 voltei às atividades como escritora. Publiquei em 2020 o livro infantil O jabuti encantado. Quando criança me apaixonei pelos contos de fadas e também pelos livros infantis do Monteiro Lobato. Durante o período em que cursei o ensino Médio, me apaixonei pelas obras de José de Alencar, sou superfã do romance Senhora. Amo romances! Gosto muito dos livros da Adriana Lisboa, deRicardo Lísias, Daniel Galera e também da autora Simone Campos.

Neila, você acredita que sua experiência como professora e contadora de histórias  tenha ajudado na criação de suas personagens?

Neila: Sim, sempre estou me inspirando em alguém que faz parte do meu convívio diário. É sempre bom observar o comportamento das pessoas, especialmente dos jovens. A escola é um laboratório.

Antônio, você acredita que a convivência com adolescentes e problemas com drogas e conflitos familiares contribuiu com a criação de O coração de dragão?

Antônio: Certamente. O trabalho na área de segurança pública permite vivenciar de perto graves problemas sociais e também as consequências deles.

Uma característica muito particular do romance de vocês é o humor e a leveza para tratar de assuntos importantes. Podem falar um pouco mais sobre isso?

Antônio: Acredito que seja uma característica muito marcante no nordestino a capacidade de lidar com situações sérias de forma leve através do recurso do humor. Essa é minha forma de encarar a vida e isso é refletido na minha forma de escrever.

Neila: Sempre observei como alguns autores conseguem falar de temas sérios com certa leveza e também com delicadeza, quis trazer isso para esse projeto. Sempre comentava com o Antônio sobre as formas de trazer esse problema do álcool de forma leve para nossos leitores.

Vocês já têm planos para os próximos livros?

Neila: Penso que um autor passa por várias fases. Quando comecei a escrever eu era praticamente uma menina, pensava em escrever mais por hobby. Hojemudei muito minha visão em relação a esta atividade, e todos os dias penso em oferecer algo mais profissional, textos com uma melhor qualidade para meus leitores. Tenho o sonho de escrever sobre relacionamentos afetivos. É uma temática que já venho pesquisando há cinco anos. Ainda não tive coragem de colocar no papel, mas penso que uma hora isso irá acontecer.  

Autora Neila

Antonio Roque Junior é baiano da cidade de Teolândia

Compartilhe :