Desde a chegada dos portugueses, por volta do século XV, uma frase ficou eternizada: somos um país em que se plantando tudo dá. Sabemos que a mencionada frase se referiu à riqueza que poderia ser subtraída e ao mesmo tempo cultivada em nossas terras. Um país de dimensões continentais, mas totalmente cultivável e apresentando os mais diversos tipos de riquezas. Com certeza os portugueses não poderiam ter encontrado algo melhor.
Mas mesmo assim, absurdamente, uma coisa é fato, desde então, nossa história é repleta de desmandos, de desgovernos; na verdade nunca nos encontramos como nação, haja visto a riqueza do nosso país e a paradoxal miséria da população. Talvez um ou outro governo tenha se destacado frente aos demais, mas se queremos de fato sermos justos, nenhum deles até os dias atuais conseguiu colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento e fazer da nossa nação um grande Estado.
São sempre as mesmas histórias, brigas de grupos pelo poder, interesses particulares sempre em primeiro lugar, favorecimentos duvidosos, corrupção desenfreada em alguns momentos e camufladas em outros, prioridades que não deveriam ser prioritárias, o jeitinho brasileiro, o enraizamento da Lei de Gerson, onde a grande maioria quer se dar bem custe o que custar, saúde precária, educação deficiente, falta de segurança, vou parar por aqui, pois a listagem não teria fim.
Todavia assim fomos criando o nosso país, alimentando sua própria ruína. O povo sempre à margem de tudo, a não ser das migalhas, de uma cultura que massifica e de um tido direito que só serve para acobertar seus desatinos; pois os direitos que de fato deveriam existir, estes sim passam longe, muito longe de serem vivenciados por todos nós.
Desde o pau-Brasil à nossa atual maior riqueza, o petróleo, fazemos sempre as mesmas coisas, não conseguimos nos encontrar como Estado. Os saudosistas falarão que o passado era melhor. Talvez em alguns aspectos sim, mas olhando por um viés econômico-social, somos um país de eternos miseráveis, de fome, de falta de tudo que venha a representar a dignidade humana. Não conseguimos transformar nossas riquezas naturais em riquezas sociais. Pelo contrário, elas serviram sempre para a manutenção desde status quo da desigualdade, da injustiça, do apodrecimento do ser.
E o reflexo de tudo isto é uma violência desmedida, uma falta de educação tremenda, uma descrença em tudo e em todos, instituições moralmente falidas, governos ainda mais descompromissados com a sociedade, uma crescente nação de zumbis que se alimentam de todo e qualquer tipo de droga, enfim, um povo que não consegue mais se enxergar.
Pelo visto a frase estava corretíssima, estamos colhendo o que a séculos plantamos e incessantemente cultivamos. O Rio Janeiro, Natal, Serra, Altamira, Ribeirão das Neves, entre outras cidades, são as provas vivas da instalação do caos, da demonstração que estamos perdidos.
Que tenhamos coragem de cortar o mal que já ultrapassou a fase de raiz a muito tempo e comecemos uma nova era ou com certeza muitas lágrimas ainda correrão pelos rostos do povo que insiste em não querer se encontrar.
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM)