Apelido de infância e adolescência
Sebastião Lobo (Almenara-MG)
Enquanto vivi em Rio do Prado, ganhei um apelido de infância e adolescência que me acompanhou durante todo o tempo que ali morei. Um apelido estranho e curioso que até hoje não sei o que significa – Cacaô. Palavra esquisita, sem dúvida.
De início pensei que o apelido posto pelo delegado municipal de polícia Esperidião Araújo, era porque eu caía muito de um pé de mandioca cacau que havia no pátio da escola onde fiz o curso primário.
Um dia enchi-me de coragem e perguntei ao delegado Esperidião o que significava o apelido que ele me pusera. Ele respondeu-me com uma gargalhada bem ao seu estilo:
– Então você não sabe?
E concluiu:
– Nem eu.
Ainda ousei:
– E de onde o senhor tirou a palavra?
Ao invés de explicar-me o que queria, novamente Esperidião explodiu em outra gargalhada. Irônica desta vez.
– Por que? Você não gosta do apelido?
Enrosquei-me na resposta. Cocei a cabeça. Disse quase murmurando, vexado:
– Gosto e até sinto falta dele…
– Então por que está preocupado?
Novo enrosco:
– Por nada…
– Então me deixe em paz, replicou Esperidião perdendo a paciência comigo. E eu deixei o delegado em paz, sim. Que uma insistência poderia soar como um “insulto” a sua autoridade, culminando com uma possível prestação de serviço comunitário, sem receber um centavo, fora a vergonha a que ficaria exposto.
Melhor mesmo, portanto era continuar com o apelido de origem desconhecida. Já não me habituara tanto a ser chamado de “Cacaô”? Por que mudar, ou tentar mudar o óbvio? Simplesmente para satisfazer minha curiosidade?
Mais tarde, bem mais tarde, já dobrando o Cabo da Boa Esperança, numa casmurrice sem tamanho, retorno a Rio do Prado e ainda insisto (tenha a Santa paciência) em saber a origem de um apelido que o tempo e a longa ausência afinal apagaram, relegando-o ao mais completo esquecimento.
Lobo 1
Sebastião Lobo é jornalista, advogado, escritor, autor de livros, colunista do DIÁRIO de Teófilo Otoni e membro honorário da Academia de Letras de Teófilo Otoni