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Restaurante Irmã Zoé

Curupira em Chamas

Jordan Washington Reis Guedes*

Nesta semana o Brasil, digo O MUNDO, ficou inteirado da maior tragédia ambiental de 2.019 até o momento: A floresta amazônica esteve queimando por 18 dias, e somente agora esse assunto está sendo amplamente comentado. Eu mesmo só não permaneci alheio à situação por conta de um stories no instagram. Logo suei frio e torci para se tratar de algum sensacionalismo ou brincadeira de mau gosto, mas quando pesquisei a respeito, fiquei espantado com tantas notícias acompanhadas de hediondas e agonizantes imagens de árvores carbonizadas, animais que viraram estátuas de carvão, aquela onça que ficou paraplégica por ter suas pernas queimadas, o macaco morto no chão, além da família de macacos que se espremia para evitar as chamas, e várias outras imagens mostrando o incêndio ainda em ação, queimando tudo, deixando para trás um extenso campo carbonizado. E ao que parece, o assunto só ganhou repercussão porque há poucos dias, o céu de São Paulo fora tomado por extensas e numerosas nuvens negras, repletas de dióxido de carbono; caso contrário não duvido de todos ainda estarem alheios ao assunto.

Sinceramente, estou profundamente decepcionado, muito chocado com tudo isso, mas meu sentimento mais forte é a preocupação pelo reflorestamento das áreas desmatadas e pelo resgate e recuperação dos animais feridos. Certamente o húmus daquelas áreas foi queimado junto com o solo, tornando o ambiente inapropriado para o estabelecimento de plantas grandes e complexas, se limitando a grama, moitas e pequenas árvores, e até fertilizar tudo de novo, e tornar o ambiente novamente apropriado para restabelecer toda fauna e flora que havia antes demandará anos, se não décadas para restabelecer o que foi perdido em MEIO MÊS. E dói ainda mais pensar que todo o dinheiro e esforços investidos na recuperação de um incêndio que poderia ter sido evitado, poderiam estar sendo direcionados para a desextinção de espécies ameaçadas e reflorestamento de áreas menos graves que poderiam se recuperar com mais facilidade, caso esse incêndio fosse de fato evitado. De alguns sites de pesquisa, o incêndio se originou da queima de um lixão, outros atribuem sua causa à atmosfera seca e quente provocada pelo efeito estufa, mas aparentemente a teoria mais aceita e difundida é que fazendeiros tenham incendiado áreas “por debaixo dos panos” para expandir suas áreas de agricultura e pecuária ou espantar animais selvagens. Mas independentemente de qual explicação esteja certa, todas concordam que os grandes culpados são os humanos, o que já não é tão surpreendente. É simplesmente incrível como os humanos tendem a se deixar levar por interesses pessoais sem considerar os efeitos de suas ações; aliás, na maioria das vezes não é que desconsideram; simplesmente se permitem travar o raciocínio quando percebem o quanto podem se beneficiar de algo, não indo para, além disso, até chegar às possíveis conseqüências de seus atos. Desse jeito está cada vez mais evidente que o filme “Wall-E” NÃO É UMA FICÇÃO, MAS UMA PREVISÃO.

Sabe-se, contudo, que a NASA tem descoberto planetas propícios para o desenvolvimento de vida, o que muito me animou, a princípio, pela possibilidade de encontrarmos magníficos animais alienígenas, imaginando suas formas, cores, hábitos, ambientes, se poderíamos encontrar seres que se assemelhassem com os animais fantásticos das nossas mitologias, etc. Mas agora, caso haja vida lá, torço para que ela se limite a microorganismos unicelulares, pois não acho que estamos prontos, em nosso presente estado evolutivo, para interagir com outros seres vivos e ambientes que poderiam ser ainda mais sensíveis que os encontrados em nosso mundo; e toda a ganância e falta de bom senso humano, tornaria não só o que aconteceu em “Wall-E” de ficção a previsão, mas o que aconteceu em “Avatar” também; o mesmo que houve, o mesmo que acontece sempre que descobrimos ambientes e seres novos: Só pensamos o quanto podemos tirar de proveito deles, e se algo nos atrapalhar ou nos for inútil, nós queimamos.

E o quê virá depois disso? Provavelmente todos continuarão sensíveis e prestativos a continuar compartilhando fotos e textos relacionados aos incêndios por uns dias, mas daqui a um mês o assunto não terá tanta repercussão mesmo que a floresta Amazônica continue em estado gravíssimo. Provavelmente todos pensarão de que tudo já está sendo reflorestado, cuidado, que os responsáveis estejam pagando por seus crimes, que bilionários estão financiando o reflorestamento, que várias comunidades próximas aos locais afetados estão colaborando também, que depois dessa tragédia nenhuma outra de magnitude aproximada ocorrerá nos próximos anos, e que o fato de terem compartilhado posts nas redes sociais e assinaram algum abaixo-assinado contra o desmatamento, encontram-se no direito de não pensar mais no assunto, voltando seus focos às suas vidas pessoais sob o raciocínio de que fizeram a sua parte, de que se morasse mais perto do incidente ajudaria mais, buscando algum obstáculo para justificar sua abstinência de manter a responsabilidade na consciência. No início desse ano, deparei-me com a notícia de que só seria questão de alguns meses até os rinocerontes serem completamente extintos da natureza, passando a existirem somente em cativeiro. Eu fiquei tão abalado quanto estou agora, e queria fazer algo a respeito. Passei a noite pensando no quanto os humanos são ingratos ao ciclo da vida, até cogitei subir em um banco no meio de uma praça, para falar tudo o que eu pensava a respeito e incentivar outros a fazer o mesmo, mas quando acordei eu já tinha perdido essa vontade; uma enorme parte de toda aquela vontade de mudar o mundo que me preenchia tinha se esvaído, e para completar busquei refúgio no pensamento de que cientistas poderiam desextinguir a espécie por meio da clonagem como em “Jurassic Park”, assim me senti na liberdade de tirar esse peso da minha consciência, por ter muitas pessoas mais capacitadas do que eu para resolver a situação. E então me encontro nessa problemática que finalmente me concedeu oportunidade de contemplar conscientemente o que negligência, ganância e ignorância podem ser capazes de fazer em escala continental de forma tão explícita que muitos acreditaram ser a chegada da destruição do mundo pelo Apocalipse ou o Ragnarock, e então decidi que JÁ CHEGA; não vou esperar que mais uma tragédia dessas ocorra para me pronunciar a respeito, para não me contentar em métodos comuns de luto e ser criativo para expandir meu campo de atuação, assim como meu leque de instrumentos contra a destruição deste mundo; e minha intenção neste artigo é “mexer” na consciência de muitas pessoas, não apenas de uma, de forma que possam ser criativas, pensando “revolucionariamente” ao invés de somente “manifestacionariamente”.

Fato é que a união faz a força, mas não é só isso; já passou daquela fase de todo mundo ajudar um pouquinho, como puder, até que esse pouquinho em conjunto com alguns outros pouquinhos se torne um muito; agora o que o mundo precisa é que um extremo se una a todos os outros extremos até que um invencível se forme. Creio que somos bem capazes disso, afinal duvido muito que não conseguiríamos salvar os alienígenas presos na Área 51 no caso de todos os humanos do planeta comparecessem no evento do dia 20 de setembro. É urgente que sejamos criativos para buscar formas de restaurar a floresta Amazônica. É bom ir ao templo e requisitar alguma bênção para que tudo dê certo, mas não basta; é preciso agir ativa e diretamente, pois não importa o quanto ore, não importa o quão imensurável seja o número, se multiplicado por zero ainda vai ser unicamente apenas zero; é preciso que esse imensurável número se multiplique por uma ação de valor tão ou mais imensurável para salvar esse mundo, para fazer esse inferno que criamos voltar a ser um paraíso, em que o sistema de capitalismo e propriedade privada seja substituído pelo sistema de bom senso e virtude; pois aqueles que carecem desses valores SÃO ESCRAVIZADOS POR AQUILO QUE PENSAM CONTROLAR, e não há melhor exemplo que o dinheiro – até onde iria para obter dinheiro o suficiente para saciar todos os seus desejos? Quais absurdos seria capaz de fazer? O quanto poderia prejudicar outro? O quanto abriria mão da própria personalidade para tal finalidade?

 

Se você pode fazer algo a respeito, faça! Se você não puder fazer muita coisa, seja criativo, pois certamente há algo que você possa fazer (por exemplo, artes, desenhos, pinturas, músicas ou esculturas que apelem e incentivem outros mais capacitados a ajudarem, reserve um pouco de tempo para se pronunciar a respeito em alguma mídia de peso, sempre sugerindo novas idéias ou criticando hábitos desvirtuados, organizar uma manifestação, etc.) e mais importante: NÃO PARE POR AÍ; continue ajudando como puder até que toda a problemática seja resolvida. A repercussão dessa problemática NÃO PODE MORRER OU AFROXAR; precisa ter uma magnitude de igual valor ou ainda superior pelo tempo que for necessário para que tudo volte a ser florestado, SEJAM MESES OU ANOS. Se você tem qualquer dinheiro sem planos de uso para coisas essenciais, DOE TUDO! Procure algum projeto de recuperação da floresta amazônica e doe; ou ainda, se puder vá lá você mesmo para não só financiar, mas ajudar na forma mais efetiva possível. Se você está economizando pra comprar um celular, uma televisão, um automóvel ou um computador, cujo modelo está a apenas uma ou duas gerações a frente do modelo que você já possui, se você não está satisfeito com uma cama ou sofá velho, mas confortável, uma banheira que não possui hidromassagem, mas que ainda é relaxante ou uma grade que não é feita de qualquer metal precioso, mas que ainda protege sua residência vá buscar um uso melhor, mais sensato, mais virtuoso para esse investimento, e COLABORE! As plantas, os animais, até os microorganismos, todo o Bioma amazônico precisa desse dinheiro, bem mais que um fetiche de comprar coisas inúteis com o intuito de criar uma falsa ilusão de uma vida plena, confortável, feliz, em que nada falta e que nunca terá que se preocupar com qualquer problema. Isso não é viver; tampouco ser feliz, é apenas ser cômodo. Viajar para conhecer novos lugares, culturas e ambientes, jogar algum jogo ou ler algum livro que desperte algo bom em você ou que te adicione bons valores, buscar novas experiências com arte ou música, praticar caridade, confraternizar com entes queridos, amar este mundo e ser grato por poder viver nele e contemplar toda a sua beleza, isso sim é viver e ser feliz, pois fora isso, você não vai muito além de ser um amontoado de moléculas aleatórias voando aonde o vento leva. Então, concluindo o raciocínio, ao menos DEIXE DE IR À DISNEY SÓ ESSE ANO, e colabore ao EXTREMO de sua possibilidade e incentive os outros a fazerem o mesmo.

Tenha isso em mente: UM É TUDO, TUDO É UM; UM ESTÁ EM TUDO, TUDO ESTÁ EM UM; DO UM SE DISSOLVE, AO UM SE COAGULA; DO UM SE SAI, AO UM SE VOLTA; ASSIM COMO TUDO PARTE DO UM, EVENTUALMENTE TUDO RETORNA AO UM. É o um e o tudo que nós chamamos de Mundo, de Universo, de Deus, de Verdade, e por fim, somos Nós mesmos. Toda forma de vida, desde um cogumelo até uma baleia está conectada por um maravilhoso ciclo em que cada elemento, por mais insignificante que pareça, está ligado direta ou indiretamente a todos os outros (por exemplo, a cadeia alimentar ou as relações de simbiose), e o mundo nos criou para fazer parte e colaborar para com esse ciclo, para respeitá-lo como todos os outros; não para explorá-lo de forma egoísta e proprietária, sob o ideal de que somos superiores a todas as outras espécies, que somos especiais por meramente sermos mais inteligentes. E daí que temos cérebros superdesenvolvidos? Os pássaros voam, os tardígrados resistem à radiação e ao vácuo, os guepardos correm a 100 km/h, os peixes absorvem oxigênio da água, polvos e camaleões mudam de cor, cetáceos vivem inteiramente na água mesmo só respirando ar, besouros e formigas levantam objetos várias vezes mais pesados que eles mesmos, morcegos tem um super sistema auditivo, e por aí vai. Somos todos especiais, e é nosso dever, como seres viventes nesse mundo, participar do ciclo da vida, só tirando o necessário da natureza, devolvendo o mesmo valor como gratidão por estarmos inseridos nele. A Amazônia não deve ser propriedade de ninguém; ela pertence ao mundo, não aos humanos; devemos respeitá-la e sermos gratos a ela da mesma forma que somos com nossos entes queridos. Nós humanos temos que parar de explorá-la, e viver de forma sustentável mesmo que despenque a economia ou que tenhamos que viver como tribos indígenas, pois repito que o mundo não nos criou para agirmos como agimos agora. É NECESSÁRIO QUE COLOQUÊMOS A VIRTUDE ANTES DO PROGRESSO!

Certamente houve grandes casos graves de desmatamento em tempos anteriores (a Mata Atlântica é uma prova concreta quando comparada ao seu tamanho original), mas nenhum tão grande em tão pouco tempo. Tomando como realidade a teoria mais aceita e comprovada, de que fazendeiros limparam áreas florestais com fogo para expandir seus pastos, isso aconteceu pela falta de fiscalização dos órgãos responsáveis por questões ambientais. Isso se deu pela falta de verba gerada pelo corte de gastos para com tais, além das reduções das multas ambientais; e como conseqüência não só os fazendeiros, mas empresas e muitos outros indivíduos foram encorajados a fazer o que bem entendem com o meio ambiente para seus próprios interesses egoístas e gananciosos sem grandes adversidades; e para piorar, países como Alemanha (um dos mais reflorestados da Europa) e Noruega (correspondente a 93,8% do dinheiro para ações de preservação ambiental e combate ao desmatamento na Amazônia) cortaram e suspenderam o repasse de verba para a manutenção da Amazônia pelo não cumprimento do Brasil do acordo de preservação ambiental; e somado ao fato de que desde Janeiro de 2.019, a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) foi esvaziada para entregar a demarcação das terras indígenas para os Ruralistas, 152 novos agrotóxicos foram liberados, o presidente do INPE foi exonerado após seus dados a respeito do crescimento acelerado do desmatamento na Amazônia (em Julho, cerca de 88% a mais em relação ao ano anterior) serem desacreditados e dados como mentirosos, o IBAMA teve sua autoridade para aplicar multas neutralizada, a redução em ações contra o aquecimento global chega a 96%, o diagnóstico de desastres da Fiocruz está paralisado, foram cortados 25% dos recursos do IBAMA (deixando 8 das 9 superintendências na Amazônia sem comando, inibindo operações de fiscalização; e desmobilizando o Grupo Especial de Fiscalização, unidade de elite do IBAMA, que não foi a campo na Amazônia ainda esse ano), se conclui que nós humanos não estamos mais no limite de nossa hipocrisia; nós o ultrapassamos a partir do fato de que ninguém percebeu o que estava acontecendo, tampouco tomou qualquer prevenção ou contramedida, muito menos alertou ninguém, nem a sociedade, nem sequer credibilizou os dados do INPE durante todo esse tempo, o que poderia evitar esse desastre que fez tanto estrago; coisas até significativamente simples de se fazer, coisas que todos nós já deveríamos fazer naturalmente acaba de mostrar na frente dos nossos olhos as consequências esmagadoras de seus descumprimentos e gritar nos nossos ouvidos o quanto estamos falhando como humanos.

Todos nós temos um propósito individual que definimos pra nós mesmos; é esse propósito que nos guia e nos prende a esse mundo, nos dando razão pra viver e sempre evoluir; eu tenho o meu e você, o seu, e se não tem, certamente o encontrará enquanto viver com virtude. Eu queria (creio que vocês também) realizar o meu propósito em um mundo lindo, cheio de flores bem diversas nas mais altas árvores, estas tão abundantes quanto arbustos e grama, um mundo em que nenhuma espécie esteja em extinção, um mundo em que os humanos convivam pacificamente com todos os seres vivos, um mundo em que tudo e todos se respeitam e que nada nem ninguém seja explorado, um mundo em que não importa pra onde se olha ou o que se ouça, tudo é belo, te faz feliz, sorrir, ter vontade de conhecer, contemplar e apreciar cada canto dele e ser grato por tudo. Irei dar o meu melhor, o meu máximo para colaborar para com a criação deste mundo, e gostaria que todos fizessem o mesmo, pois como disse, se eu conseguir mudar a cabeça de apenas uma pessoa, EU NÃO VOU ESTAR SATISFEITO! Meu objetivo aqui é pregar e colar essa virtude em qualquer consciência que ler ou não este texto, e não irei parar até que tudo esteja MELHOR que antes, que a Amazônia não só seja completamente reflorestada, mas também que todos os humanos usem seus cérebros superdesenvolvidos para exercer, como principal atividade, A VIRTUDE. Outra postura também imprescindível, estarmos sempre atentos às ações dos políticos, nossos representantes, nem que seja por memes no Facebook, sempre que forem eleger alguém, pesquise tudo a respeito dos candidatos (sua história, educação, motivação, promessas, suas relações, seus ideais, e CADA ENTREVISTA), sempre apontar suas promessas descumpridas ou mal executadas. Por fim tenhamos sempre isso em mente: ANTES DO PROGRESSO VEM A VIRTUDE! (Fontes UOL, G1, threadreaderapp)

*Jordan Washington Reis Guedes é ambientalista e estudante da UFVJM

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