“Não sou pelego de rico, nem reproduzo interesses do baronato”
TEÓFILO OTONI – O ex-radialista Roberto Marcos, presidente do PSOL de Teófilo Otoni, concede entrevista ao Diário, oportunidade de explicar as razões que o movem a ser candidato a deputado estadual. Depois de uma tímida campanha para prefeito em 2016, com pouquíssima visibilidade, Roberto Marcos conversa com a nossa equipe e avalia os cenários possíveis para a eleição que se aproxima. Leia, a seguir, a íntegra do papo com ele:
DIÁRIO – Como espera que sejam as eleições 2018?
ROBERTO MARCOS – Que sejam a afirmação da crença na Política e, não, o contrário. Essa doença da rejeição à Política não faz bem ao Brasil e, menos ainda, a Teófilo Otoni. A Política não é ruim. Os políticos é que são. E convencido disso, repito que a responsabilidade do eleitor se tornou ainda maior. O voto, em 2018, precisa ser usado como ferramenta de ajuste de conduta, e não como instrumento que reafirme e aprofunde a tragédia.
Acha mesmo que o eleitor mais simples entenderá essa necessidade?
O eleitor tem todos os motivos para querer distância do processo eleitoral. E como ele foi levado a crer que tudo apodreceu, que os políticos somos todos ladrões e picaretas, ele tenta também ganhar alguma coisinha. E, assim, termina aceitando um saco de cimento, a extração de um dente, uma consulta médica em troca do voto. Só que essa lógica é autofágica. Por esse caminho, o eleitor vai sendo, no final das contas, ainda mais lesado em seus direitos vitais. E é exatamente essa amargura sem fim que pode tornar-se o combustível da refundação da Política, aqui, em Teófilo Otoni e nos Vales.
Você acredita, de fato, que haverá mudanças na direção do voto do eleitor teófilo-otonense?
É uma premissa das mais básicas. Não tem como ser diferente. O eleitor teófilo-otonense, bem como de toda a região, precisa retomar as rédeas do processo imediatamente. Sabemos que se depender de certos padres, certos pastores, certos vereadores, certas lideranças comunitárias e associativas, a direção do voto será a de sempre. Ou seja, a lógica criminosa de quem pagar mais. Portanto, quem precisa resistir a essa coisa desavergonhada é justamente o eleitor que só perde com a mercantilização do próprio voto.
Não está sendo duro demais, Roberto…
Vinícius, sabemos das negociações malcheirosas em que se metem lideranças religiosas, lideranças políticas e comunitárias, guardadas, claro, as exceções. Vira e mexe, acontecem almoços patrocinados por um ou outro estrangeiro vindo sabe-se lá de onde. Tudo isso tem claros contornos de pronta prostituição. Por via indireta, eleitores são induzidos a votar em gente que eles nem sabem quem é, ou de onde veio. Assim, o intermediador corrupto, aquele que defende o nome desses candidatos, enche o bolso, e Teófilo Otoni naufraga ainda mais na lama do atraso.
Mas apoiar um candidato, seja ele quem for, é uma decisão pessoal de cada um…
Sim. Mas há regras claras para isso. Por exemplo, qual é o cimento usado no momento dessa construção? Terá sido o conjunto de propostas e compromissos pelo paraquedista ou o peso do cheque prometido?
Mas você tem tido, mais recentemente, o quanto crê na existência de um voto de qualidade…
Sim. Por isso, persisto. A tarefa do Psol, nestas eleições, é trabalhar para que o voto de qualidade se cristalize em Teófilo Otoni e nos Vales. O Psol tem o deputado mais votado do Brasil, Marcelo Freixo, no Rio, exatamente porque foi capaz de organizar, ali, uma energia que estava difusa, dispersa. Eu sei que existe, sim, gente pronta para resistir também em Teófilo Otoni. E essa gente, verdadeiramente cidadã, precisa vislumbrar uma nova Política, uma nova narrativa para a qual possa canalizar o seu desejo de verdadeira mudança.
Mais parece que a maioria…
(Interrompendo o entrevistador) Os canalhocratas sobrevivem da política ruim. Existem figuras no cenário local, e figuras vistas como vitoriosas, que são pai e mãe da pouca vergonha e da corrupção. Caras que recebem comendas, caras para quem a Imprensa se abre fartamente e para quem alguns setores da sociedade puxam a cadeira. Não se engane: mais uma vez, agora em 2018, filhotes da velha política e apadrinhados de alguns riquinhos tentarão manter-se em cena, ou sendo candidatos a deputados, ou vendendo a influência que imaginam ter junto ao seu eleitorado de cabresto.
Você não acha que…
(Interrompendo novamente) Há políticos locais que, embora arrotem moralidade, assentam-se em cima de um enorme rabo do envolvimento em tudo que há de mais sujo. Há gente empossada aí, gente tida como “gente boa” que não suporta uma semanazinha de uma investigação mais séria. Por isso, digo: ou o eleitor barra essa gente com o poder do seu voto, ou, daqui a 50 anos, estaremos ainda comemorando a cidade que quase deu certo.
Há analistas que dizem que o dinheiro ainda falará alto nestas eleições…
Até agora tem sido assim. Entretanto, percebo uma predisposição de um certo perfil de eleitor a não se curvar mais. E aí é que entra o Psol. Alguém precisa tomar o caminho do risco, e fazer o que é certo, ainda que beire ao utópico e inexequível. Se essa ideia não vingar, a cidade e a região não se resolvem, não saem do buraco, vão se colapsar.
Há quem diga que, apesar das suas ideias, o senhor se limita pela impossibilidade de vencer eleições…
Todos queremos vencer eleições. Mas a ideia de vencer a qualquer custo, beijando o diabo ou recebendo dinheiro de algumas figuras que se acham donas de Teófilo Otoni, honestamente não me atrai. Não sou pelego de rico, nem bajulador de “manda-chuva”. Por isso digo claramente que não é a essa gente que o mandato do Psol servirá. Temos compromisso com as pautas que estão associadas a velhas demandas do povo de Teófilo Otoni e região. E outros motivos não me servem. Portanto, tomo o caminho do risco, mas não me curvo àqueles que se julgam os senhores da cidade…
O senhor alimenta, então, a ideia de separação de classes?
Não tem nada disso, Vinícius. Apenas reafirmo que que os ricos já têm direitos demais, a quem, aliás, também não faltam instrumentos para defender-se e aos seus direitos. Os mais pobres, não. Logo, um mandato do Psol teria esse claro direcionamento, e as pautas seriam o reflexo das demandas populares que o nosso coletivo passou o ano inteirinho pesquisando e formatando.
Há quem diga que as bandeiras que o senhor defende aproximam-se da anarquização do Estado…
Infelizmente alguns setores da Imprensa, sequestrados pelo dinheirinho sujo que rola da mesa dos plutocratas, prestam-se a municiar esse tipo de desinformação. Defendo, por exemplo, a regulamentação do transporte alternativo intermunicipal como mecanismo de barrar o monopólio exercido por algumas empresas de ônibus. Se as empresas de ônibus não gostam da minha proposta, problema delas. Não fui e nem irei lá com chapéu estendido pedir dinheirinho para minha campanha… Anarquia é o que está aí. Os irregulares rodando para baixo e para cima sem garantias para eles mesmos e menos ainda para o usuário. Leis ruins precisam, sim, ser enfrentadas e modificadas…
O senhor também defendeu as ocupações das áreas pertencentes à família Porto…
Claro que defendi. Sou legalista, e a lei diz que o princípio do direito à propriedade é circunstanciado pela função social que essa propriedade precisa cumprir. Tanto a Constituição Federal quanto o Estatuto da Cidade preconizam esse princípio. E tem mais: uma sociedade moderna tem que olhar para dentro de si e encontrar caminhos de ser igualitária, equitativa. Não é admissível que, em 2018, ricos façam bancos de terras em áreas estratégias, enquanto pobres não podem sequer construir a casa para morar, condenados a viver longe das oportunidades. Isso é anticivilizatório, amoral, contradivino.
Suas pautas não se misturam às pautas petistas?
Psol e PT nada têm a ver, embora pareça. Somos coisas absolutamente diferentes. Apaixonado pelo poder, o PT está sempre disposto a suportar relacionamentos estranhos. O PT, se for necessário, vai para cama com o diabo apenas para vencer eleições. Se acha exagero meu, olhe os cenários local e nacional. O PT sofre da esquizofrenia de querer o poder a qualquer custo. Em Teófilo Otoni, apenas a título de exemplo, o PT somou-se (inclusive na última eleição) às figuras mais sujas, tendo-as, inclusive, na linha de frente de seus projetos. Esse pragmatismo deveria envergonhar as bandeiras que, em um passado nem tão distante, decantavam ética, seriedade e respeito à coisa pública. Apesar do meu mal-estar em relação ao PT, não é ao PT que devemos enfrentar nesse momento. Há coisas bem piores…
Como será a sua campanha?
Sem dinheiro, mas com coragem. Vou para as ruas, como não pude fazer em 2016 (por problemas de saúde), falar com as pessoas. As ideias, a narrativa e o pensamento da candidatura precisam ser mais importantes do que o candidato. Sei que a cidade espera a oportunidade de replicar uma nova narrativa. E essa narrativa tem que caminhar para o rompimento com a velha política que tem sido feita aqui.
Será ouvido?
Vinícius, não surgi hoje. Tenho uma estrada na Comunicação Social, e as pessoas sabem muito bem de que lado da história estive durante toda a minha vida. Não sou garoto de recado, nem puxa-saco de dono de farmácia, de empresa de ônibus, de construtora, nem andei frequentando os bastidores do poder em busca de um empreguinho para mim, para parentes ou amigos. Não aceitarei que gente de mãos sujas tente me desqualificar. Além disso, represento um coletivo cujo condomínio de ideias e propostas atenderá às premissas mais urgentes da nossa gente. Por tudo isso, serei, sim, ouvido.