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Restaurante Irmã Zoé

Entre o pato e a espada

Dia desses me peguei assistindo às clássicas pegadinhas do Silvio Santos e percebi que as mais famosas eram as que envolviam uma nítida situação de injustiça.

Em um restaurante, o garçom deixa o bife cair, mas logo o põe sobre o prato, depois da famosa sopradinha, e serve ao cliente. Os demais clientes se indignam com o que veem e prontamente alertam o homem pra não comer a comida, acusando o garçom, que nega prontamente.

No supermercado, o ator toma a frente na fila do caixa, já que precisaria passar apenas um pacote de papel higiênico para secar o neto no carro. O detalhe é que ele é premiado com um carro e vale/compras, por ter sido o milésimo cliente. O restante da fila se revolta, já que aquilo não seria justo, pois o prêmio deveria ser entregue ao sujeito que (forçosamente) cedera o lugar na fila.

Noutra, um sujeito está pichando uma casa, tranquilamente, no topo de uma escada, de modo a parecer ter autorização para tanto. Até que ele pega “uma vítima” e pede para que ela segure o spray e o chacoalhe, enquanto vai pegar alguma coisa longe dali. Até que a “polícia” aborda o cara com o spray na mão, acusando-o de ser o puxador da região. Ele reage, diz que estar só segurando para terceiro, que então passa pela cena e finge desconhecer o detido. A injustiça da falsa detenção é revoltante, mas cômica.

Por fim, um outro ator lava a calçada, com uma mangueira, e pede aos que passam para segura-la enquanto ele busca uma vassoura. Entra em cena um pai, alto e forte, que traz seu filho pela mão, este acusando o homem que segura a mangueira de tê-lo molhado. Diante do pai fortão, a vítima da pegadinha tenta se explicar, acusando o sujeito que pediu ajuda (que passa pela cena e também finge desconhecer o suposto agressor), mas às vezes o melhor argumento acaba sendo a velocidade das pernas. Mais uma vez, a injustiça dá o tom da risada.

Também, lembrei de um recente “viral” do WhatsApp, sobre a possibilidade de prisão para os motoristas flagrados dirigindo sob efeito de álcool. É verdade que a alteração se deu apenas para acidentes que causem lesão corporal ou homicídio, ambos culposos. E não somente pelo fato de dirigir embriagado. Então, a mensagem era falsa. No entanto, o ponto é: quem compartilhava a mensagem comungava do sentimento de injustiça, já que aquilo não seria proporcional, etc., caso verídica fosse a informação.

Quando foi que perdemos a capacidade de nos indignarmos de fato e não seletivamente? Enquanto a punição está contra “eles”, não tem problema. Quando ela bate à nossa porta, denunciamos os abusos…

Em tempos inquisitoriais, de sanha judicial/ministerial/policialesca, não nos importamos com delações forjadas, prisões preventivas excessivas e, sobretudo, condenações sem provas.

Nosso gatilho para detectar e nos insurgimos contra injustiças foi inutilizado por uma estratégia ardilosa, que incutiu objetivos sórdidos e “missões”/”combates” que devem ser travados, a todo custo, mesmo à revelia do que achamos “justo”.

Não nos importam as regras e a Constituição se afirmou como a mais ilustre desconhecida de todos.

Enfim, em breve teremos um importante capítulo dessa “luta por justiça a qualquer preço”. Tomara que o Direito não pague o pato e que a espada da justiça não corte de vez a esperança do povo brasileiro.

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