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Febre Amarela: a raiz do problema foi a falta de prevenção nos municípios mais afetados após o surgimento dos primeiros macacos mortos

935c508f3b0efc98c4614ea5f0f1c5abCidades vizinhas a T. Otoni que contabilizaram macacos mortos foram omissos à possibilidade de contágio. O bom exemplo do município de Franciscópolis – que mesmo estando em área de grande contágio, vacinou sua população rural em setembro último, logo após o aparecimento dos primeiros macacos mortos – leva a crer que faltou iniciativa das prefeituras das cidades mais afetadas, que vivenciaram os primatas mortos bem na época da campanha eleitoral de 2016. Há quem diga que pensou-se na ocasião que o problema da mortandade era a seca, outros afirmam que foi a preocupação com as campanhas políticas que desviou o foco da real motivação, evitando-se a vacinação popular, falha esta que gerou certa histeria local, alto número de contaminações, mortes e a saturação de todo o sistema regional de saúde

TEÓFILO OTONI – Os três municípios mais afetados da região em relação a epidemia de febre amarela silvestre, Ladainha, Poté e Malacacheta poderiam ter evitado um mal maior, ou nas proporções vistas, talvez até mesmo evitado casos de contaminação, se suas prefeituras tivessem sido ligeiras em imunizar suas populações rurais. Esta constatação se dá devido o bom exemplo do município de Franciscópolis, uma ilha em plena linha de frente das cidades mais afetadas. De acordo matéria do repórter Carlos Albuquerque, a Secretaria Municipal de Saúde de Franciscópolis se antecipou ao problema, não o deixando sequer acontecer por lá, visto que o município, no olho do furacão do surto de febre amarela, não registrou um caso suspeito sequer.

Macacos mortos e bloqueio vacinal em setembro

A explicação começa com o que aconteceu há quatro meses. Em setembro do ano passado, alguns macacos apareceram mortos na zona rural, na comunidade de Quebra Coco, na divisa com o município de Malacacheta. A secretaria de saúde, então, começou a avaliar a situação.
“A enfermeira de epidemiologia, Kênia Moreira, entrou em contato com o IEF, que recolheu fósseis de um macaco para exames; mas os resultados acabaram sendo insatisfatórios, porque o material já estavam em decomposição”, conta o atual secretário de saúde, Alessandro Gonçalves Gomes, que na época, trabalhava como enfermeiro numa unidade de saúde.
Mesmo sem a confirmação técnica, sem a resposta para a mortandade de primatas, o município, em contato com a Regional de Saúde, resolveu fazer um bloqueio vacinal para prevenir um possível surto de febre amarela. “A prefeitura vacinou em torno de 200 pessoas na zona rural”, relata o secretário de saúde.
O secretário não tem dúvida de que a ação rápida da secretária da época, Renata Alves de Souza, e da enfermeira Kênia Moreira, é que garante, hoje, o combate à febre amarela, sem o desespero que se vê em cidades vizinhas. “Esse bloqueio foi fundamental para que não tivéssemos nenhum caso até agora”.
Mas, no mesmo mês de setembro de 2016, macacos apareceram mortos também na zona rural de municípios vizinhos a Franciscópolis. Perguntado sobre por qual motivo esses municípios não seguiram o mesmo procedimento, o secretário de saúde de Franciscópolis responde com uma hipótese: “Como era período de seca, seca brava mesmo, pensaram que os macacos haviam morrido de sede ou de fome”.
Porém, há quem diga que os prefeitos não agiram porque estavam mais preocupados com suas campanhas políticas.

Contornos da febre alta: Política e falta de previsão

Em Ladainha, por exemplo, que registra uma das maiores reservas ambientais de floresta amazônica, ocorreu, ainda em setembro, o aparecimento de vários macacos mortos. Segundo ambientalistas, o macaco é como um anjo para o ser humano, pois suas mortes prenunciam doenças que podem chegar ao homem.
O médico socorrista do Samu e também do Hospital Santa Rosália, Dr. Rodrigo Lobo, foi um dos primeiros a alertar sobre o aparecimento de macacos mortos em Ladainha e a possibilidade disto se reverter numa epidemia de febre amarela na região, abarrotando os hospitais em Teófilo Otoni, visto que a cidade é referência no tratamento em saúde para as cidades vizinhas.
Mesmo com os alertas, nenhum dos municípios mais afetados, Poté, Malacacheta e Ladainha fizeram o dever de casa como o vizinho Franciscópolis fez. Ladainha, por exemplo, onde prefeito reeleito, Walid (PSDB), vivia a campanha pela reeleição, não houve uma movimentação de vacinação em contrapartida à morte de vários macacos em sua zona rural. O alerta estava dado, mas nem todos tiveram olhos para o problema naquele momento. Resultado da falta de prevenção e previsibilidade (bem ao contrário da rápida atuação do vizinho Franciscópolis): Ladainha registra os maiores índices de mortes confirmadas e suspeitas, casos confirmados e suspeitos de febre amarela silvestre em todo o estado. São 08 mortes constatadas.

Atualização dos números da infestação

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES) informou nesta segunda-feira (23) que investiga 83 mortes suspeitas por febre amarela; já as mortes confirmadas são 32. O governo do estado já considera este o pior surto da doença já registrado em Minas Gerais.
Os casos notificados em Minas Gerais são 391, desses, 58 já foram confirmados. Todos os números aumentaram em relação ao boletim da última sexta-feira (20). Segundo a secretaria, eram 71 óbitos suspeitos e 25 confirmados; 272 casos suspeitos e 47 confirmados. Já são 41 municípios afetados.
Ainda de acordo com a secretaria, as mortes confirmadas estão relacionadas às cidades dos vales do Rio Doce e do Mucuri: Ladainha (8), Ipanema (5), Teófilo Otoni (3), Piedade de Caratinga (2), Malacacheta (2), Imbé de Minas (2), São Sebastião do Maranhão (2), Itambacuri (2), Poté (1), Conceição de Ipanema (1), Setubinha (1), José Raydan (1), Ubaporanga (1). A 32ª morte é relacionada à cidade de Januária, no Norte do estado. A SES ainda investiga o local do contágio. A vítima morreu em Brasília.
Atualmente, os índices de vacinação nos municípios do nordeste mineiro envolvidos na infestação do mosquito transmissor da febre amarela silvestre atingem quase 100% da população.

 

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