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Gestor do antigo ‘Centro Viva Vida’ diz que crise da saúde em T.O. é fruto de má gestão

Entrevista 1
Graduado em Ciências Contábeis, Administração e Gestão pública, com pós graduação em Gestão Estratégica de Negócios e também em Gestão Empresarial, Paulo Henrique Coimbra dá a senha para os gestores em Saúde do município e região sobre como administrar uma instituição do setor em tempos de crise

TEÓFILO OTONI – Gabaritado pelo fato do atual Centro Estadual de Atenção Especializado, localizado no bairro São Jacinto (antigo ‘Viva Vida’), não vivenciar crise financeira, saltando em menos de um ano de 700 para até 6 mil atendimentos mês, o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal de Saúde dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus, Paulo Henrique Coimbra, 32, está com o poder da palavra. Segundo ele, desde março de 2014 no cargo, o problema vivenciado pelo setor na cidade e região será resolvido assim que os responsáveis diretos se reunirem com educação e vontade administrativa (menos aspereza e/ou politicagem bruta). “É preciso reestruturar toda a rede de saúde que dispomos, fazer um agrupamento maior do que já tem sido feito, e não apenas ficar apontando os defeitos, mas realisticamente, agir e pensar no que precisa ser feito, com previsão de futuro e pé no chão. Com uma gestão eficiente, que aborde estes pontos, dá para fazer mais e melhor.” Confira, na íntegra, esta inédita entrevista com alguém [com ‘domínio de fato’] que aponta a luz a ser seguida neste fim de túnel batizada de Saúde Pública Nacional.

 

DIÁRIO – No jornal recebemos vários e-mail, indagações diversas de leitores, sobre o que é o Centro Viva Vida…

PAULO HENRIQUE – É um Centro Estadual de Atenção Especializado, antigo Viva Vida. É um programa do governo do estado, referendado pelo próprio, pactuado em metas, gerido pelo Consórcio de Saúde, atendendo em diversas áreas, como hipertensão, diabetes, gravidez de alto risco, atenção ao pré-natal, atenção especializada para a mamografia… Na realidade, na saúde da mulher em diversos aspectos, incluindo câncer uterino. Até o ano passado tínhamos também a saúde do homem, mas com a mudança no quadro do Centro Estadual tivemos que sair um pouco desta área e focar mais na saúde da mulher. Em resumo, isso é o Centro Viva Vida, hoje Centro Estadual de Atenção Especializado.

 

O Centro Estadual de Atenção Especializado é voltado para a pessoa ou o município?

Atendemos 32 municípios. Na verdade tudo é preconizado, há uma diretriz básica em cada especialidade, junto a cada município. A gravidez de alto risco, por exemplo, possui uma linha que precisa ser seguida para a pessoa vir para cá… O diabético hipertenso também. A pessoa que pensa assim: eu acho que estou com diabetes não pode vir para cá. Você já tem que ter a diabetes e ser encaminhada pelo município onde mora. Na verdade atendemos as pessoas dos municípios consorciados.

 

Quem encaminha os pacientes?

A atenção primária de cada município. Cada Secretaria de Saúde, dentro dos seus postos de saúde, onde nós chamamos de atenção primária, é que encaminham ao Centro Estadual para o atendimento. Uma vez aqui preconizamos e damos a atenção necessária.

 

O que difere o Centro Estadual de outros órgãos de atendimento à saúde, como a UPA, por exemplo?

A UPA integra a atenção terciária. Nós a atenção secundária. Somos uma área especializada. Nosso foco é a especialidade. Acompanhamos a pessoa a partir da gravidade vivenciada por ela. Por exemplo, a pessoa descobre que tem diabetes. O que então faremos para controlar essa diabetes evitando que o cidadão não tenha a necessidade de passar por uma cirurgia ou chegar a uma situação clínica mais complicada? Este é nosso papel.

 

Então aqui não faz cirurgia?

Não. Nós fazemos o controle, o acompanhamento e a redução desse índice de cirurgias para os municípios.

 

E qual tipo de atendimento que é realizado na instituição e que não é encontrado nos outros órgãos de saúde, como por exemplo, um hospital municipal?

Existem as especialidades dentro do nosso programa. Somos diferentes por que lá, na atenção primária, por exemplo, as especialidades são mais básicas, como a clínica geral. Neste caso, o médico vai acompanhar, detectar qual é o problema e nos encaminhar dentro da nossa especialidade. Já no nível secundário do município é que entramos na realidade do consórcio. Seria muito caro para as cidades consorciadas pagarem especialistas clínico como um neurologista, por exemplo. Então o que fazemos? Juntamos a demanda e necessidades de Poté, Malacacheta, Setubinha, etc., e contratamos um neurologista. Assim estes municípios podem encaminhar seus pacientes, a demanda, para o Centro Estadual.

 

E como funciona essa gestão e a integração dos municípios no consórcio? como eles participam financeiramente?

Se eles possuem uma demanda e querem fazer parte do consórcio, os absorvemos. Para tanto é cobrada uma taxa entre 1% a 1,5% do FPM destinado à saúde de cada município. Assim, ele passa a ser cotista do consórcio, tendo direito a utilizar de toda a infraestrutura existente. O município que tiver um FPM maior terá um aporte de recursos maior. Claro que um município que tiver um FPM menor pode elevar sua taxa para cima de 1% e garantir acesso a todos os procedimentos. Cada cidade busca sua filiação a partir das necessidades do paciente dentro do município, ou seja, aquilo de melhor que temos e necessário para atendê-lo. Se dado município precisa de um oftalmologista, é só buscá-lo dentro de nossa carteira. As instituições encaminham os pacientes de acordo com a demanda dos próprios municípios. Aquilo que eles não conseguem atender, seja na atenção básica ou mesmo secundária, nos é encaminhado. É importante frisar que Teófilo Otoni não faz parte do consórcio, mas dos programas sim. E é importante salientar também o que é consórcio e o que são programas. No consórcio temos 26 municípios da bacia do Mucuri, do Baixo Jequitinhonha e São Mateus, porém atendemos a 32 municípios destas regiões.

 

Qual o corpo de funcionários do consórcio para atender essa demanda?

No nosso quadro, hoje, dispomos de 100 funcionários e mais 170 médicos que compõem o nosso corpo clínico.

 

Eles atendem somente na instituição

Alguns médicos sim, outros em suas clínicas. Aqueles que cuidam da hipertensão, diabetes, gravidez de alto risco, DST AIDS e pediatria atendem aqui.

 

Porque Teófilo Otoni não faz parte do consórcio? O município perde com isso?

O porquê realmente não sei. Talvez por ser um município maior com um leque de médicos maior… Pode ser que eles não vejam necessidade… Já o prejuízo é a ausência da rapidez e da agilidade que nós temos. Atualmente conseguimos atender nossos pacientes em até 30 dias. Financeiramente falando, o Centro Estadual perde porque Teófilo Otoni utiliza nossos serviços num volume às vezes muito maior que os outros municípios.

Teófilo Otoni não faz parte do consórcio, mas faz parte dos programas. Explique isso melhor.

Teófilo Otoni participa dos programas que são aplicados com recursos do Estado, geridos pelo Estado. Portanto, em relação aos programas do governo estadual a cidade não tem prejuízo algum. Apenas nas especialidades que oferecemos é que há perca para o município, que perde um local a mais para atender sua população.

 

Quando você assumiu o cargo de secretario executivo quais foram as dificuldades encontradas? Conseguiu contorná-las?

Quando entrei havia uma pequena rixa entre a Gerência Regional de Saúde, hoje Superintendência Regional de Saúde, e o antigo gestor do consórcio, por conta de um desconhecimento dos procedimentos que deveriam ser adotados. Por conta disso o consórcio ficou cerca de 4 meses parado, até a definição dos seus atores principais. Encontramos também barreiras financeiras, alguns atrasos, dificuldades trabalhistas, mas nada que atrapalhasse o andamento do consórcio, que sempre foi muito saudável financeiramente. Quando entramos havia um volume baixo de atendimentos em relação aos programas, e isso era uma interna de 700 atendimentos por mês. Aí fomos ao governo estadual e à superintendência, renegociamos essa meta e hoje mantemos uma média de 5 mil a 6 mil atendimentos por mês. Além desse avanço em nossa gestão houve melhorias na infraestrutura e nas condições de trabalho para o nosso pessoal. O primeiro ano (2014) foi muito bom, e no ano seguinte se encerrou ainda melhor.

 

Como foi possível avançar?

A partir do entendimento e do reconhecimento de que o importante é entender e ouvir nosso quadro de funcionários, pois eles entendem nossas dificuldades e potencialidades. Além disso, ter novas metas, escalonadas e periódicas… O que e como alcançar, onde buscar os atores capazes de fazerem as coisas acontecerem, enfim fazer um trabalho de gestão otimizado. Tanto ouvimos falar em crise nas instituições municipais de saúde, e o mesmo não acontece com o Centro Estadual de Saúde. A que se deve isso? Bom, não posso dizer pelo que está sendo feito nas outras instituições de saúde da cidade, mas no nosso caso, enxugamos a máquina, trabalhamos com previsão de futuro, inclusive para saber lidar com eventuais situações de recessão, conscientes do que deve ser feito e de como deve ser feito.

 

Para finalizar, a saúde vive grave crise na região. De infraestrutura, de profissionais, de recursos. Em sua opinião, dá para fazer uma boa gestão em saúde nestas condições espaciais?

Claro que sim. É preciso reestruturar toda a rede de saúde que dispomos, fazer um agrupamento maior do que já tem sido feito, e não apenas ficar apontando os defeitos, mas realisticamente, agir e pensar no que precisa ser feito, com previsão de futuro e pé no chão. Com uma gestão eficiente, que aborde estes pontos, dá para fazer mais e melhor.

 

 

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