A construção do Hospital Regional de Teófilo Otoni, prometido como o maior do interior de Minas Gerais, se arrasta há mais de uma década. Com início das obras em 2014, a unidade hospitalar, que deve atender milhares de pacientes do Vale do Mucuri e do Jequitinhonha, teve mais uma vez sua data de inauguração adiada: de agosto deste ano de 2025 para o fim do ano. E, para surpresa geral, a entrega não será completa.
Segundo informações recentes, apenas 100 dos 432 leitos previstos estarão em funcionamento inicialmente — menos de 25% da capacidade projetada. A promessa, portanto, é de uma abertura parcial, o que acende alertas importantes tanto na esfera técnica quanto na política.
Custeio preocupa prefeitos e população
Um dos pontos mais sensíveis é o custeio da operação do hospital. A manutenção de uma estrutura desse porte não pode recair exclusivamente sobre os municípios da região. Cidades como Almenara, Jordânia, Araçuaí e tantas outras, que ficam a mais de 300 km de distância, naturalmente buscarão atendimento na unidade regional. No entanto, quais municípios (que possuem nesta região baixo desenvolvimento e arrecadação, com parcos orçamentos municipais — já bastante limitados) vão arcar com uma estrutura tão complexa?
A sustentabilidade do Hospital Regional de Teófilo Otoni depende, portanto, de um modelo de financiamento sólido e articulado. Especialistas e lideranças locais defendem uma gestão tripartite, com a união de esforços (financeiros) entre os governos municipal, estadual e federal. Sem isso, há o risco de que a unidade opere de forma precária, comprometendo o atendimento à população e sobrecarregando o sistema de saúde regional.
Uso político e promessas que se arrastam
A proximidade das eleições de 2026 também levanta preocupações. O receio é de que o hospital se torne mais uma peça de campanha eleitoral, usado como trunfo político em vez de ser tratado como prioridade de saúde pública. O histórico de promessas não cumpridas — com sucessivos adiamentos e entregas parciais — já fragiliza a confiança da população.
Moradores e gestores temem que o hospital seja inaugurado apenas “no limite”, com funcionamento mínimo, e sem o impacto estrutural que poderia realmente transformar a realidade da saúde neste interior mineiro. Há uma expectativa legítima para que, desta vez, o cronograma seja cumprido e que, mais do que um marco político, a unidade represente uma resposta concreta às demandas históricas da região.
Conclusão
O Hospital Regional de Teófilo Otoni é mais do que uma obra: é uma necessidade. A população do Vale do Mucuri e do Jequitinhonha merece acesso digno à saúde, com estrutura adequada, profissionais capacitados e atendimento eficiente. Para isso, é essencial que haja responsabilidade política, compromisso orçamentário e transparência na gestão.
A inauguração parcial, se confirmada para o fim de 2025, deve ser encarada apenas como o primeiro passo. O verdadeiro desafio começa com a operação plena da unidade — e com a garantia de que a saúde pública prevaleça sobre os interesses eleitorais.
Por Vinícius Rêgo Pessoa
Jornalista – JP 11432/MG
Pós-graduado (Lato Sensu) Gestão de Políticas Sociais (PUC-MG)