A “Brincadeira” que deve ser levada a sério
A violência nos últimos anos tem crescido no mundo todo, até mesmo na escola, um espaço que era para ser reservado para educação e construção de valores, tem sido constantemente alvo de atos violentos. As relações interpessoais não só no ambiente escolar estão cada vez mais difíceis. Na escola em especial, crianças e adolescentes estão cada vez mais se afastando das atitudes para o bom convívio, respeito ao próximo, generosidade, altruísmo, estão perdendo as habilidades sócio-emocionais mais importantes: se colocar no lugar do outro, pensar antes de agir, expor e não impor as ideias e vivem no esquema ‘bateu, levou’. Resultando assim, em cidadãos levados a uma violência explícita, estressados, deprimidos, com baixa auto-estima, baixa capacidade de autoaceitação e resistência as frustrações.
Brincadeira? Zoação? Até que ponto?
Brincadeira é quando algo que é engraçado para ambas as partes, que diverte, demonstra intimidade e principalmente, não ofende. A brincadeira só é saudável quando esta não provoca situações de constrangimento e não visa à infelicidade de ninguém. O outro está sofrendo? Essa “brincadeira” está persistindo dias a fora? Até que ponto deixa de ser engraçado para ser ofensivo? Quando as situações desagradáveis acontecem, certamente trata-se de um caso de bullying. Mas afinal, o que significa esse tal de “Bullying”? Segundo Olweus e Limber (2010, p. 125), “bullying se refere a comportamentos de uma ou mais pessoas intencionais, negativos e repetidos contra outra pessoa que não é capaz de defender-se”, indicando que deve haver uma desigualdade de poder entre vítima e agressor. De forma mais simples, significa dizer que os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, humilhar, amedrontar suas vítimas visando benefício próprio. Ademais acontece de diferentes formas, Verbal (Insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos perjorativos, “zoar”. Física e Material (Bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima. Psicológica e moral (humilhar, excluir, discriminar, chantagear, intimidar, difamar). Sexual (abusar, violentar, assediar, insinuar). Virtual ou Ciberbullying (bullying realizado por meio de ferramentas tecnológicas: Celulares, filmadoras, internet etc.). Atualmente “o cyberbullying” é apontado como o mais perverso, este que ocorre pela utilização cada vez maior da Internet,e traz ainda maior gravidade ao problema pela velocidade com que se alastram as notícias,e o alcance ilimitado de usuários que podem tomar conhecimento dos fatos, promovendo grande desgaste mental e psicológico na vítima, porque podem envolver situações como difamações, tanto por palavras quanto através de imagens alteradas, as quais geram humilhações, sendo mais difícil identificar o autor desse comportamento, por se encontrar detrás de um computador.
Como saber se meu filho está sofrendo bullying na escola?
Esta é uma das perguntas mais frequentes feita pelos pais em consultórios, reuniões de escola e palestras sobre o assunto. Os problemas mais comuns são: alterações no humor, insegurança, isolamento, baixa autoestima, insônia, tristeza, humor deprimido ou irritado, parece choroso, desinteresse pela escola, queda no rendimento escolar, ataques de fúria e impulsividade com pensamentos suicidas. Problemas psicossomáticos, como dores de cabeça e de estômago, tonturas, vômitos e diarréia pouco antes de irem à escola. Problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros. Além disso, o estresse constante pelo medo de ataques costuma provocar sinais físicos na criança. A criança (ou o adolescente) começa a andar cabisbaixa, demonstrando cansaço, tem problemas para dormir e sofre com pesadelos,faz xixi na cama.Aparece com a roupa rasgada ou suja e chega em casa sem os seus pertences,apresentam feridas no corpo e não sabem explicar como surgiram,falta de apetite,não desejando comer nem a comida preferida, além disso, alguns adolescentes podem iniciar o consumo de álcool ou drogas. A provável vítima de bullying, criança ou adolescente passa a apresentar diversas desculpas (inclusive doenças físicas)para faltar às aulas.Em casos mais graves, podem-se observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio.
E quando meu filho é quem pratica o Bullying? É difícil para alguns pais admitirem falhas ou defeitos em seus filhos e, por isso, preferem culpar os outros, mesmo quando têm a consciência de que estão errados. Dificilmente o jovem vai contar em casa que faz brincadeiras de mau gosto com colegas. Entretanto, negar as evidências com a intenção de proteger o filho não é a melhor saída. Os pais devem estar atentos e buscarem manter um diálogo atento e aberto com seus filhos, sem pré-julgamentos, para assim identificar a tempo as atitudes inadequadas logo nas primeiras ocorrências, e claro, o exemplo dentro de casa é fundamental. Alguns comportamentos a serem observados é que na maioria das vezes, são crianças ou jovens que apresentam um comportamento mais agressivo, muitos podem estar vivenciando dificuldades momentâneas, como a separação traumática dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças na família. Se comportam por uma nítida falta de limites, são arrogantes no agir, no falar e no vestir, demonstram superioridade, manipulam pessoas para se safarem das confusões em que se envolveram,costumam voltar da escola com objetos ou dinheiro que não possuíam, mentem de forma convincente, demonstram gostar quando vêem os outros expostos ao ridículo.
Como os pais podem encarar o problema? Em primeiro lugar, é bom manter a calma e não se alterar para que o filho não fique ainda mais assustado. Ele pode ter medo da reação dos pais e não querer envolvê-los. Porém, os pais devem ficar atentos e tomarem as devidas atitudes,como falar com a escola e até mesmo com os pais do aluno agressor. E devem deixar claro para o filho que não vão tomar atitudes que piorem o problema, a fim de adquirir a confiança dele.
Quando os pais devem buscar ajuda profissional? A identificação precoce do bullying pelos responsáveis (pais e professores) é de suma importância. As crianças normalmente não relatam o sofrimento vivenciado na escola, por medo de represálias e por vergonha. A observação dos pais sobre o comportamento dos filhos é fundamental, bem como o diálogo franco entre eles. Os pais não devem hesitar em buscar ajuda de profissionais da área de saúde mental (Psicólogo/Psiquiatra) para que seus filhos possam superar traumas e transtornos psíquicos.
Qual o critério adotado pelos agressores para a escolha da vítima?As vítimas mais comumente escolhidas são crianças e adolescentes inseguros, tímidos, com dificuldades de comunicação e de construir relações de amizade, que não se encaixam nos padrões convencionais de beleza ou se vestem de modo muito diferente dos demais, que se sentem inadequados ou afetivamente carentes. Por tais características, dificilmente conseguem reagir, tornando o bullying cada vez frequente, pois se a criança ou adolescente não buscam ajuda,a tendência é que a provocação do colega não pare, gerando assim, um grande mal estar nas vítimas.
É imprescindível todas as partes envolvidas no combate, o trabalho em conjunto da escola, família, comunidade e demais profissionais que lidam com crianças e jovens é capaz de acabar com o bullying. Dessa forma, é de fundamental importância o entendimento e a compreensão de todos quanto a este assunto, prevenindo assim possíveis tragédias e conseqüências que podem gerar sequelas pela vida toda.
Graziele Oliveira/Psicóloga Clínica e Coach / (33) 99141-8174 ou (33)3521-1792