Recentemente um prédio, ou melhor um imenso prédio, pegou fogo e em chamas veio a desmoronar na maior metrópole da América Latina: a capital paulista São Paulo. O acontecido poderia ter sido cenas de um roteiro cinematográfico de um filme de ficção ou terror, pela tragédia ocorrida, mas infelizmente tratava-se de cenas da vida real.
O que talvez não tínhamos notado, pela nossa inércia ou alienação social, é que aquele prédio já havia se desmoronado a muito tempo. Se na gíria popular, quando dizem que a “casa caiu” é porque alguém é pego e/ou descoberto pela polícia, metaforicamente ousarei dizer que “o prédio caiu”, representa em pequena escala tudo aquilo que vem acontecendo de mais podre e sórdido com a nossa nação e que também se desmascarou no triste episódio.
O prédio se desmorona a cada dia quando no jogo do empurra-empurra dos poderes públicos, ninguém tomava de fato uma providência para resolver o problema. No Brasil da burocracia e do politicamente correto tampar o sol com a peneira vem sendo sempre o caminho escolhido.
O prédio se desmorona a cada dia quando a contribuição mensalmente paga ou poderíamos chamar também de “propina ilegalizada do lar” era desviada para atender as intenções do(s) líder(es) e seus parceiros no dito movimento social também envolvido na questão.
O prédio se desmorona a cada dia quando a sociedade não quer resolver seus problemas, quando de excluídos aquelas pessoas se tornam invisíveis sociais. Portanto, se aquele prédio não tivesse caído, ninguém se importaria com aquelas pessoas. Continuariam ali como indigentes, como invisíveis, como “ninguém” pelo resto das suas vidas. Simplesmente alimentando a riqueza de alguns que vivem justamente da miséria deles.
O prédio se desmorona a cada dia quando de fato não observamos no país um projeto decente de habitação pública que não tenha por objetivo ser uma forma de lavagem de dinheiro para financiar a maldita corrupção. Dinheiro que vai para o ralo sem nenhum retorno social.
O prédio se desmorona a cada dia quando as construções públicas ficam abandonadas, à mercê da sorte, das intempéries, das invasões, da má utilização, gerando prejuízos aos cofres públicos e deixando de ser melhor aproveitadas.
O prédio se desmorona a cada dia quando fingimos que somos uma nação. Uma nação rica que trata aquele que deveria ser o centro das atenções, o cidadão, como um nada.
O prédio caiu! Agora, o pior de tudo é saber que depois da comoção, que por ser no Brasil vai passar muito rápido, algum esperto vai aproveitar para tirar alguma vantagem de tudo isso e rapidinho a vida voltará ao normal como se nada tivesse acontecido, e todos nós na expectativa de qual e como será a próxima tragédia nacional, para começar a lenga-lenga toda outra vez.
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM)