
“As pessoas dizem que o amor é cego porque elas não sabem o que é o amor. Só o amor tem olhos. Além do amor, tudo é cego”, OSho. Aniversário de 81 anos do seu Manoel. Na foto, ao lado da amada Lourdes
TEÓFILO OTONI – “Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”. Trecho final do Soneto de Fidelidade, escrito pelo saudoso Vinicius de Moraes, um dos maiores poetas da língua portuguesa. Dificilmente alguém conseguirá traduzir tão bem o amor, um sentimento que une casais pela vida inteira. Atualmente, onde um número cada vez maior de casamentos acaba em briga, divórcio, encontrar casais com mais de 50 anos de história juntos e, acima de tudo, felizes é uma raridade.
Pois bem. Todos aqueles que já tiveram um relacionamento longo, sabem da dificuldade que é viver lado a lado de uma pessoa durante muito tempo. Talvez por isso, histórias de casais que estão juntos há muitas décadas sempre são inspiradoras. Pensando nisso, o DIÁRIO foi até o Bairro Olga Prates Corrêa, mais precisamente na Rua Nelson Correa, onde conversou com o mestre de obras aposentado Manoel Azevedo do Nascimento, 81 anos. Um baiano carismático, que há tanto tempo morando em Minas, pode ser considerado um ‘baianeiro’, afinal, une o melhor das duas culturas. Não só isso. Ele é casado há 55 anos com a senhora Lourdes Azevedo. O fruto desse amor gerou nove filhos, e consequentemente, herdeiros, hoje são16 netos e cinco bisnetos.
Agora, após essa apresentação, você já deve ter percebido que o tema da entrevista desta semana é sobre o Amor. Sim. Com ‘A’ maiúsculo, afinal são 55 anos de casados.
Então vamos lá.

Nosso amigo, Seu Manoel. Ao fundo um quadro com a antiga rodoviária, que remete a chegada desse bom baiano por terras botocudas do Mucuri, e o encontro com sua eterna esposa mineira, Lourdes. Deus abençoe vocês, amigo!
Manoel Azevedo nasceu em Riachão, no ano de 1934. Ou melhor, em Ponto Novo povoado de Riachão, no interior da Bahia, na Fazenda Baliza. Ainda de pé, viu?! Os parentes do seu Manoel ainda moram por lá, a título de curiosidade.
O bom baiano, ok, tudo bem. Nosso querido baianeiro, nasceu, cresceu, e não é que veio aportar nessas terras do Mucuri, há mais de meio século?! Pois bem. Mestre de obras, requisitado, foi dando os seus primeiros passos em construções locais (mas já rodou o Estado, principalmente a capital mineira). Tá vendo aquele prédio ali na Getúlio Vargas, onde hoje funciona a Graffite? Ele (Seu Manoel) ajudou a construir.
“Fui o primeiro a bater o martelo, abrir espaço no prédio que hoje funciona a Graffite. Não só por lá. Prédios como do Hotel Lancaster, construções da própria Rua Epaminondas Otoni, Marajoara e outros. Fui o primeiro a construir uma casa no Tabajaras”, afirmou.
Vamos resumir, porque é muito trabalho, história para pouca página.
Feita a apresentação do Seu Manoel, protagonista da história, avançamos até chegar ao ápice do então relacionamento, namoro, noivado (tudo nos conformes, viu?!) com a senhora Lourdes, que recebeu o Azevedo no nome, após o casamento. Mas quem vai contar o trecho é nosso protagonista:
“Quem celebrou meu casamento foi o padre Frei Antelmo. Que ficou muito popular no passar dos anos até hoje. Coincidentemente minha filha caçula, Walkiria, atualmente é educadora na Escola Estadual Frei Antelmo Kropman, que recebeu o nome do padre que celebrou o meu casamento”, disse.
Tá vendo. Além de especial pela trajetória de vida e pelo amor que os mantém unidos há tantas décadas, ainda tem muita coincidência no ar. Quer história de amor mais bela do que esta?
Engana-se quem acredita que o senhor de 81 anos fica em casa durante todo o dia, divagando sobre a vida. Nada disso. Levanta bem cedo, entre 5h30 e 6h da manhã. Prepara o café, serve a esposa, ainda fica um pouquinho e vai para a rua. Sim. Vai sozinho. Cruza todo o Centro da cidade. Vai ao supermercado, faz compras, e quando vê algo que possa agradar a esposa, para na loja e compra. Gente. Esse ‘mimo’só tinha visto entre namorados, mas aqui já são mais de cinco décadas de ‘namoro’.
“Vou sozinho a supermercados, açougue, lojas. Ando toda a cidade, apesar de todo o trânsito e a falta de respeito de algumas pessoas nas calçadas e outros obstáculos, que atrapalham o ir e vir”, destacou.
No sofá, a filha, diz:
“Papai sempre quando vai à rua, traz um presente para minha mãe”.
Com aproximadamente 1.80 de altura Seu Manoel é durão. Tentou segurar esse lado mais emotivo de ‘coração de manteiga’ durante a entrevista, mas Walkiria, a filha, entregou o pai. Além disso, contou alguns trechos que emocionam. Seu Manoel, ahhh Seu Manoel.
“Ele faz o café bem cedo, leva para minha mãe. Eles só dormem de mãos dadas. É algo incrível, lindo”, disse.
Eu percebi os olhos da nossa amiga brilharem ao dizer isso, quase marejados. Bem, a esposa do Seu Manoel, dona Lourdes está cadeirante, teve a mobilidade reduzida nos últimos meses. Como toda mudança deixa marcas, vou ser bem sincero. Se houve limitação física, de acesso, o mesmo não pode ser dito sobre o amor. Ele é ilimitado, e nos pequenos gestos, percebemos que se a máxima ‘eles foram feitos um para o outro’ é legítima, deve-se muito ao casal Lourdes e Manoel.
Com o passar das horas, Seu Manoel fica bem a vontade durante a entrevista, contando vários episódios de quando ainda mestre de obras e ajudou a erguer a estrutura da cidade. Tive que lembrar que se trata de uma entrevista, pois como Hunter Thompson, jornalista norte-americano, já me vi em meio a trama, como personagem, tamanha inteiração e identificação com esse nosso amigo. Pezinho no chão e vamos lá.
Talvez seja ilusão pensar que um casal vai se unir e ser feliz para sempre. Tem que haver sacrifício por parte dos dois. Muitas vezes existem atritos, desencontros em ponto vista, ‘picuinhas’, mas um relacionamento só pode ser construído com a união e a cooperação das duas pessoas.
Para o Seu Manoel, talvez seja difícil de explicar, quantificar. Mas ele me certificou que “existe, mas não tem explicação’, afirmou.
O amor é cego? Sim, talvez seja. Porque nós não temos garantia de nada, o futuro… ahhh o futuro é incerto.
“Temos que viver cada dia. Não sou de lamentar”, afirmou Seu Manoel.
Antes de ir embora faço uma última pergunta: Qual é a data do casal? Qual dia eles tiram para dizer ‘esse é o nosso dia’, vamos comemorar!?
De pronto Walkiria, a filha caçula e também co-protagonista da matéria responde:
“Eles comemoram no dia do aniversário deles. Dia 30 de setembro aniversário do meu pai e dia 31 de dezembro aniversário da minha mãe. Eles sempre dividem essa data, porque são especiais para os dois”.
Tá vendo leitor… Eles não se desgrudam. E mais, o amor não é egoísta. O dia especial de um, onde é comemorado seu nascimento, é compartilhado ao lado da pessoa que mais ama.
Lá se foram pouco mais de duas horas de entrevista. Foi um bate papo na verdade. E mais, um aprendizado. Não percebi o adiantar da hora, e espero que vocês deixem a leitura fluir e sintam o mesmo. Já estou me despedindo. Estou na porta da sala já inclinado a deixar o imóvel.
Sempre bem-humorado, Seu Manoel me deu um forte aperto de mão, que foi seguido de um abraço. Ainda conversamos até chegarmos ao portão. Nos despedimos e acenei sinalizando que retornaria para um novo bate papo. Mas, acho que não vou esperar pelo simbólico “60 anos de união”, volto antes. Confesso, queria ficar mais tempo. Mas, o ponteiro já havia marcado 19h há um tempinho, e não queria tomar mais a noite desse senhor e sua filha. Afinal, também tinha que correr para dar vida ao ótimo bate papo, para que os leitores, neste domingo, pudessem conhecer um pouco desse casal que há 55 anos estão casados, ou melhor, continuam se amando. E assim finalizamos e nos despedimos deste casal tão especial e que nos passou uma grande lição de amor e de vida.
Se a gente não se ver, Bom dia, Boa tarde e Boa noite.
2 Comentários
JOÃO VICTOR
Esse é meu avô , linda historia de vida !
JOÃO VICTOR
Esse é meu avô , linda historia de vida ! De João Victor Azevedo Sena