O Clube Libanês comemora mais de 120 anos de imigração libanesa em Teófilo Otoni e região, e para celebrar a data, foi inaugurado nesta quinta-feira (25), no Espaço Calçadão Cultural, da Rua Manoel Martiniano, no Centro, um monumento em bronze, representando a figura do mascate e toda sua habilidade para o comércio. A escultura é da artista mineira Vânia Braga. Uma homenagem ao imigrante libanês, marcando de forma indelével a sua presença na história dessa cidade. Nesta entrevista dominical, o DIÁRIO conversou com a presidente do Clube Libanês, Munira Molaib e a artista Vânia Braga, que contou um pouco da sua trajetória, e o sentimento de fazer parte de um acontecimento tão importante para o município, que foi a inauguração do
monumento em homenagem ao imigrante libanês em Teófilo Otoni.
TEÓFILO OTONI – Em 1962 foi criada a Sociedade Beneficente Sírio-Libanesa, dando origem, em 07 de setembro de 1951, ao Clube Libanês de Teófilo Otoni, que tem como objetivo disseminar a cultura árabe, manter uma aproximação maior da colônia libanesa e o entrosamento com a cultura brasileira, preservando vivo o legado dos antepassados. Na última quinta-feira (25), no Espaço Calçadão Cultural da Rua Manoel Martiniano, Centro, o Clube Libanês promoveu a inauguração de um monumento em bronze, representando a figura do mascate e toda sua habilidade para o comércio. A escultura da artista mineira Vânia Braga é uma homenagem ao imigrante libanês, marcando de forma singular a sua presença na história
da cidade. Em meio à comemoração, e por que não, reconhecimento tardio desta comunidade tão importante para o município, o Diário bateu um papo com a presidente do Clube Libanês, Munira Molaib e a artista Vânia Braga. Confira!
DIÁRIO – Há mais de 30 anos no mercado da arte e responsável por diversos trabalhos por Estados Unidos, Portugal e todo o país, o município recebeu um pouco do seu talento. Conte-nos como foi o inicio de sua carreira.
Vânia Braga – Todas as vezes que reúno com amigos para contar minha história sempre brinco e digo: nasci “dentro” de um atelier de artes. Sendo a única filha mulher, meu pai tinha um carinho especial por mim. Lembro que ainda muito criança, mais precisamente aos cinco anos, ganhei meu primeiro cavalete, pinceis e palheta. Coube-me acompanhá-lo e assisti-lo pintando as lindas paisagens mineiras. Assim começava minha convivência com a Arte. Confesso que a cada cena que via retratada nas telas a minha fascinação pela arte crescia. Morava em Pedro Leopoldo e a casa dos meus pais era ao lado de uma olaria. Nos fins de tarde, reunia com os amigos e íamos buscar argila para brincarmos. O contato da argila com as mãos me deixava extasiada e foi brincando e esculpindo os primeiros torrões de argila que ficou registrada o meu primeiro contato com a escultura. Pintei durante 15 anos trafegando pela pintura acadêmica até chegar ao abstracionismo. Aos 20 anos, com a influência e apoio do meu irmão Vitor Braga – que é hoje um dos maiores marchands do país, inaugurei minha Galeria de Artes. Fiz várias exposições e leilões nas cidades mineiras e a cada leilão observava as obras de grandes artistas como as esculturas de Sonia Ebling, período em que eu ficava “namorando” e admirando suas figuras femininas e felinos, o que acabou me influenciando no meu atual trabalho.
Qual a importância da arte na sua vida?
Vânia Braga – Para mim, esculpir uma peça significa resgatar minha infância e trazer de volta os ensinamentos maravilhosos que herdei de meu pai, enfim, deixar fluir na minha alma tudo que aprendi e vivenciei dentro do mundo da arte.
Você conseguiria mensurar o sentimento de fazer parte de um acontecimento ímpar na história do município, que foi ‘dar vida’ a um sonho de gerações, sobretudo, da comunidade libanesa na cidade?
Vânia Braga – É muito gratificante, muito prazeroso, porque quando um artista está esculpindo uma obra ele transfere sua alma, e eu senti que essa homenagem ao imigrante libanês deixou um traço, um pouco disso para essas pessoas. O público passa e comenta que: ‘ah, essa estatua lembra a feição do meu avó, do meu tio de origem libanesa’. Acredito que este trabalho deixou a marca da alma do artista, da alma do libanês.
Como é fazer parte dessa marca, deste acontecimento que vai perpetuar pela história da cidade?
Vânia Braga – É um momento inesquecível na minha carreira. Na noite da cerimônia de inauguração, da homenagem, as pessoas me perguntavam se eu era libanesa, e de fato eu já me sinto libanesa. A cidade de Teófilo Otoni é muito hospitaleira, toda a população. Já me sinto parte da cidade, já faço parte do coração de Teófilo Otoni e estou muito feliz.
Com uma carreira consolidada, inúmeros trabalhos reconhecidos, podemos dizer que esse trabalho ficará marcado na sua memória?
Vânia Braga – Com certeza. Está dentro do meu coração, tem sido um momento inesquecível. Quero voltar mais vezes à cidade. Teófilo Otoni sempre estará no meu coração.
O espaço está aberto para as suas considerações.
Vânia Braga – Primeiramente gostaria de agradecer a Munira, ao Synval, a Meire Mattar que foram as primeiras pessoas que me procuraram. Agradecer a toda a comunidade, o Clube Libanês, que foram os patrocinadores, e a toda cidade onde fui muito bem acolhida com tanto carinho que me senti em casa. Sou da cidade de Pedro Leopoldo onde Chico Xavier nasceu, e eu esculpi o Chico Xavier lá. E aqui, eu me senti na minha cidade. Agradeço o carinho que recebi. Muito obrigado a todos vocês.
DIÁRIO – Qual o sentimento de ver o monumento, a estatua do imigrante libanês erguida e sendo reconhecida pela população?
Munira Molaib – É um sentimento de sonho realizado, de uma missão cumprida, em sinal de reconhecimento e gratidão aos nossos antepassados, a essa colônia forte que escolheu o Brasil para a sua segunda pátria e Teófilo Otoni para fincar raízes e construir sua família e seu patrimônio.
É um sentimento de dever cumprido?
Munira Molaib – Eu vejo como um trabalho artístico plantado no Centro da cidade sendo reconhecido pelo povo. A artista [Vânia Braga] está emocionada e eu também estou pura emoção e acredito que não há palavras que traduzam esse sentimento de emoção, gratidão a Deus e a todas as pessoas que contribuíram para que esse evento acontecesse e esse monumento fosse instalado nesse local.
Munira, ainda sobre a inauguração do monumento. Podemos dizer que uma dívida histórica com a comunidade libanesa no município foi quitada?
Munira Molaib – Acredito que é uma dívida também com a nossa cidade. Esse é um monumento que deve perpetuar a memória da cultura milenar libanesa em Teófilo Otoni. Mas, sim. Acredito que parte dessa dívida histórica foi cumprida, com a missão do Clube Libanês.