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Uma polícia despreparada

No último 19 de abril, uma tentativa frustrada de reação contra um roubo dentro de um ônibus acabou em tragédia. Não foi no Rio de Janeiro, foi em São Paulo. E a reação foi de um policial militar fora do serviço. Eram três bandidos armados, dentro de um ônibus cheio de gente e o policial acreditou que conseguiria derrubar três e salvar a todos. Não salvou ninguém, nem a si mesmo. E causou o fim de um advogado que estava iniciando a carreira e sonhava em ser delegado, além de causar o ferimento de outras três pessoas.

Eu fico lembrando do sargento Costa, instrutor do Tiro de Guerra de Catanduva, em suas aulas aos soldados: a infantaria só ataca quando a proporção é de três para um. E penso: será que não existe um manual que instrua o policial como agir diante de situações parecidas à que os policiais enfrentam dentro e fora do serviço?

Lembro ainda o sargento Costa: a infantaria numa recua, dá meia volta e avança. O que observo no Rio é uma polícia atacando em uma clara desvantagem, resultando em crianças mortas por balas de origem irresponsável. Será que na Polícia não se ensina em alguma instrução que mande o policial esperar reforços e até mesmo recuar?

Fiz uma pesquisa entre os maiores jornais e vi uma entrevista em 2006: o tenente-coronel Aristeu Leonardo afirmou que não há uma orientação da Polícia Militar do Rio a seus policiais sobre como agir em caso de assaltos quando não estão em serviço. E, pelo que observamos como as coisas acontecem no Rio, não tem orientação para isso e nem para muitas outras situações (ou não treinam, ou não seguem).

Já para a PM paulista, um policial pode andar armado fora do serviço e se presenciar um crime, ele deve, primeiro, analisar se há risco a terceiros. Se houver, ele não deve reagir. Faz sentido, já que 76% dos policiais militares mortos estavam em folga no ano passado. Porém, como observamos semanalmente, falta treino para os policiais agirem como diz o manual.

Os policiais também têm equipamentos não letais, mas não usam. Em 2001, testemunhei a chegada da polícia em uma loja, em Los Angeles, entraram com as latas de “spray” pimenta na mão, ou seja, estão treinados para não serem letais.

E porque não treinam o policial também para não ser reconhecido pelos bandidos, a evitar linguagem e postura de policial? Por que um policial tem que andar com uma identidade policial? Não seria melhor misturar-se à população?

A polícia do Rio, mergulhada em corrupção e incompetência, chegou ao fundo do poço e precisou sofrer intervenção federal. E o cume do fracasso foi o anúncio do fim de quase a metade das 38 Unidades de Polícia Pacificadora. A ideia da UPP era reforçar o policiamento comunitário das regiões que foram implantadas. Segundo a Dilma, era exemplo para São Paulo… Faça-me o favor dona Dilma, se existe um estado exemplar, é São Paulo que hoje tem taxa de assassinatos menor que Miami (12,2 assassinatos por cem mil habitantes) e Washington (20,4).

Certamente, os policiais do Brasil necessitam de muito treinamento. Treinamento de atitude custa quase nada, por que não fazem?

Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.

 

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