Violência política, racismo e misoginia: o tratamento vergonhoso à ministra Marina Silva no Senado

Ao cumprimentar Marina Silva, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) declarou que queria “separar a mulher da ministra”, alegando que a mulher “merecia respeito”, mas que esse respeito não se estendia à ministra

O episódio recente envolvendo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, é mais do que um debate político acalorado: é um retrato explícito da desigualdade estrutural, do racismo institucional e da misoginia que ainda contaminam as instituições brasileiras. Os ataques sofridos por Marina — uma mulher negra, de origem humilde, com trajetória política e ambiental reconhecida internacionalmente — foram vergonhosos e inaceitáveis, sobretudo diante da passividade, quando não da conivência, dos próprios integrantes da comissão.

Contrastando com esse cenário, assistimos dias antes a digital influencer Virgínia Fonseca ser recebida por senadores com sorrisos, fotos e até elogios à sua família. A diferença de tratamento é gritante: uma mulher branca, jovem, rica e midiática é exaltada, enquanto outra, negra, pobre, nordestina e politicamente atuante, é hostilizada em plena Casa Legislativa. A questão aqui não é meramente ideológica — embora os ataques partam, em grande parte, de figuras ligadas à direita —, mas sim de postura ética e institucional frente a uma convidada que, por respeito à democracia, compareceu espontaneamente para prestar esclarecimentos.

O mais repulsivo foi o comportamento do presidente da Comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO), que, ao invés de intervir para garantir um mínimo de civilidade no debate, pediu que Marina Silva “se colocasse no seu lugar”. Que lugar seria esse, senão o de uma ministra de Estado? O de uma mulher que luta há décadas pela preservação do meio ambiente? Ou, na visão dele, seria o lugar subalterno que a estrutura racista e patriarcal ainda insiste em tentar impor a pessoas como Marina?

Esse episódio escancara o quanto o Brasil precisa avançar — e muito — no combate à violência política de gênero e raça. Enquanto a presença de mulheres negras em espaços de poder continuar sendo tratada como afronta, e não como conquista democrática, seguiremos sendo um país que falha em garantir respeito e equidade. Marina Silva merece ser ouvida, respeitada e valorizada não apesar por sua origem, mas justamente por tudo o que representa na luta por um país mais justo e sustentável. E é isso que parece incomodar tanto aqueles que, acostumados aos privilégios, não suportam ver o outro lado da história ocupando o centro do poder.

Por Vinícius Rêgo Pessoa
Jornalista – JP 11432/MG

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